Capítulo 12 - Não me deixe só, eu tenho medo do escuro
Quando escutei a porta bater lá embaixo fui tomada por um pânico absoluto, um medo completamente irracional de estar só. E naquele momento estar só tinha tantos significados, que todos eles se misturavam dentro de mim, tornando-me incapaz de identificar o que me fazia temer.
Disquei o número de Carol no telefone.
- Oi, Lu - atendeu ela.
- Volta, por favor - pedi, sem consegui parecer controlada.
- O que aconteceu? - ela perguntou aflita.
- Volta - chorei.
- Calma, já estou subindo - avisou ela.
Desci as escadas correndo como se estivesse fugindo de alguém. E estava, fugindo da minha passividade, dos meus medos, da minha insegurança.
Quando a campainha tocou, eu abri a porta imediatamente e me atirei nos braços dela. Carol me abraçou segurando a minha cabeça com uma das mãos enquanto alisava as minhas costa com a outra.
Chorei abraçada a ela por um longo tempo. Ela não me perguntou absolutamente nada, apenas se manteve ali, de pé, me envolvendo no seu abraço.
Depois que os soluços ficaram mais espaçados e minha respiração parecia mais perto do normal, ela foi me soltando aos poucos, devagar, como me preparando para o que estava fora dos braços dela.
Quando eu já estava solta, ela se afastou em direção à cozinha. Foi então que me percebi livre. O pânico tomou conta de mim novamente. Comecei a chorar de novo e ela voltou rapidamente para mais uma vez me envolver.
- Só fui pegar um copo d'água pra você, meu bem. Mas já estou aqui. Pronto, está tudo bem - disse me tranquilizando
- Eu não quero ficar aqui sozinha, por favor - pedi.
- Não vai ficar. Não vou deixar você só. Estou aqui com você, tá bom? - falou.
Balancei a cabeça positivamente em resposta e apertei ela ainda mais forte.
- Vamos subir? Vou te colocar na cama pra você descansar um pouco, foi um longo dia. - disse ela.
- Não quero dormir. Não quero ficar sozinha - eu disse sem conseguir disfarçar o medo que tomava conta de mim.
Ela então segurou meus braços firmemente, afastando meu corpo do dela e olhando nos meus olhos, disse:
- Lu, eu não vou te deixar só. Vou ficar com você até você me pedir para que eu vá. Estou com você, tá bom?
Escutar aquilo me aqueceu por dentro e acho que até me arrancou um discreto sorriso. Carol me puxou de volta pra ela, afagou minha cabeça e perguntou:
- E aí, podemos subir agora?
- Podemos - respondi segurando sua mão.
Subimos a escada de mãos dadas.
Quando chegamos lá em cima ela perguntou se eu queria colocar o pijama. Foi ai que me dei conta que eu ainda estava enrolada na toalha. A mesma com a qual ela havia me deixado.
Minha vontade era de deitar do jeito que estava. Meus olhos ardiam e meu corpo doía como seu eu tivesse corrido a São Silvestre. Tudo que eu queria era minha cama.
Mas vendo a minha hesitação, ela me entregou o pijama e eu prontamente fui até o banheiro vesti-lo. Escovei os dentes e deitei, ocupando o lugar que costumava ser meu, quando éramos nós. Ela também deitou no seu antigo lugar.
- Você quer um pijama? - ofereci.
- Gostaria, acho que dormir de jeans seria um desafio. - falou rindo.
- Posso? - perguntou ela abrindo meu guarda roupa.
- Claro.
- Mesmo lugar?
- Tudo igual.
Ela abriu a primeira gaveta do armário e pegou um pijama bem folgado que eu costumava vestir aos domingos para ficar de bobeira em casa. Ela riu, provavelmente porque teve essa mesma lembrança, mas preferiu não externar. Enquanto ela ia ao banheiro se trocar, eu pensava como era estranho tê-la ali tão perto, mas ao mesmo tempo com uma distância implícita entre nós. Distância essa que eu, mais do que ninguém, impus.
Antes que eu me perdesse completamente nos meus devaneios, Carol me trouxe de volta:
- Lu, você tem uma escova de dente para me emprestar?
- Tenho sim, pode pegar aí no armário - respondi, sendo jogada novamente em meus pensamentos. Agora eu havia voltado no tempo, quando ainda tínhamos duas casas e escovas aqui e ali. Bons tempos, pensei.
Quando ela deitou na cama, de novo fui tragada pela realidade.
- Quer ver um filme enquanto o sono não vem?
- Quero sim.
Ela colocou um filme que me arremessou para tão longe que, dessa vez, eu não era capaz de saber onde estava.
- Bom, com esse filme, não tem erro. Você vai dormir tranquila!
Era Nothing Hill, meu filme preferido. Ela realmente estava cuidando de mim.
Ela se acomodou ao meu lado, mas a distância entre nós permanecia. Naquele momento, a separação parecia mais física do que emocional. Na verdade, parecia mais medo de que qualquer aproximação soasse como desrespeito. Mas a iniciativa veio em forma de oferta:
- Quer deitar no meu ombro?
Fui pega de surpresa. Por mais que quisesse aquilo, ainda lutava contra minhas inseguranças. Tive vontade de me esconder embaixo do edredom. Mas optei por somente responder:
- Quero.
Ela me olhou como se jamais esperasse essa resposta. Aproximou-se de mim e eu acomodei minha cabeça no seu ombro, como costumei fazer nos últimos anos.
Estava protegida, podia dormir sem medo.
E foi exatamente o que fiz. Peguei no sono antes mesmo da metade do filme. Do jeito que eu gostava, adormecer antes dela, nos braços dela.
Foram 10 horas de sono, sem interrupção.
Quando acordei já eram quase 11 horas da manhã. Carol não estava mais na cama, mas havia um bilhete em cima do travesseiro dela.
"Desci pra não correr o risco de te acordar. Espero você para o café da manhã"
Li o bilhete e me perguntei se estava pronta para aquilo. Com preguiça de procurar a resposta ou com medo de encontra-la, virei para o lado e me permiti mais 5 minutos.
Acordei depois de meia hora, sem nenhum arrependimento por ter estendido meus 5 minutos.
11h30, hora de levantar.
Desci a escada preguiçosamente. Vi Carol, lendo o jornal na varanda. De lá de baixo, ela me olhou com uma caneca - que supus ser de café - na mão e disse:
- O bilhete dizia café da manhã, mas...
- Por essa, você está perdoada - falei enquanto me aproximava do último degrau.
Ela andou em minha direção, segurou na minha cintura e disse:
- Você é capaz de me perdoar por outras coisas?
- Tem alguma coisa que eu possa comer ou serei punida por me entregar a Morfeu? - perguntei, desconversando.
Ela ajeitou o cabelo preso despretensiosamente em um coque e respondeu:
- Vamos lá, jamais puniria você por qualquer coisa. Para provar isso, pedi almoço faz uma meia hora, deve estar chegando. Quer chá?
- Por favor.
Ela me trouxe a caneca, sentou-se ao meu lado, colocando os pés sobre a mesa de centro.
- Carol?
Ela virou o rosto pra mim, fazendo-me perceber o quão perto nós estávamos.
Eu baixei os olhos, sem saber como lidar com aquela proximidade repentina.
- Obrigada
- Pelo que?
- Por ter ficado.
Ela virou o corpo todo pra mim, respirou e começou:
- Lu, eu te amo, queira você ou não. Estarei sempre por perto quando precisar.
Fiz menção de falar alguma coisa para rebater o que ela dizia, mas fui impedida.
- Lu, nós temos uma história. E, como toda história, a nossa está passando por um capítulo complicado. Cabe a nós decidirmos o destino que daremos a ela. Deixa eu te mostrar que eu posso te fazer feliz.
Quis sair dali rapidamente. Não estava pronta para essa resposta. Embora a palavra que eu tinha na minha boca fosse "sim", meu instinto de proteção dizia que ainda não era hora de baixar a guarda.
O interfone tocou e eu agradeci por aquela interrupção.
Era a comida.
Fim do capítulo
Ai, esse capítulo foi intenso! Vocês gostaram meninas?
Comentar este capítulo:
Jebsk
Em: 16/07/2018
Apoio a colega Novaqui. Não uni as mulheres só no último capítulo. #SomosTraumatizadasPelaNovela
Amei o capítulo. Luisa está quase no ponto e quanto menos ela esperar será arrebatada entre os lençóis por Carol.
Adeus para a Solange ????
Resposta do autor:
#achamaestáaquecendo
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Patyjoy Barros
Em: 16/07/2018
Sou a favor do amor .todos merecemos uma segunda chance.
Resposta do autor:
Somos todas a favor do amor!
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NovaAqui
Em: 16/07/2018
Não sei o que falar depois desse capítulo (emoticon de olhinhos para cima) kkkkk quando eu penso que já era de vez, vem essa sobrevida dada pela Lu. Então, Carol, só resta continuar tentando rsrsrs.
Pelo menos a Solmala sumiu.... mesmo sendo por enquanto rsrs
Se elas ficarem juntas, eu espero que sim, não as faça voltar no último capítulo não. Dê o prazer de curtimos um pouco mais delas juntas rsrs eu tenho trauma. Parece novela daquele canal de TV. Os mocinhos sofrem a novela toda e o bandido só se dá bem. No último capítulo vem o "viveram felizes para sempre" e aí acabou. Desenhos da Disney também rsrs
Desculpa pelo desabafo do trauma de infância kkkkk
Abraços fraternos procês aí
Resposta do autor:
Entendo esse trauma. Sabe o que é pior? A mocinha era sempre salva por um mocinho! Então, relaxa, que aqui se alguém tiver que ser salva, será por outra mocinha, pode ter certeza!
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