Capítulo 16 - A tristeza tem sempre uma esperança, de um dia não ser mais triste não
SOLANGE
Diante do estado de Luisa, decidi que o melhor era ligar para Carol. Lu insistiu para que eu não fizesse isso, de modo a não preocupá-la e atrapalhar sua aula. Como já estava perto das 12h, achei por bem ligar - a essa altura a aula já teria acabado e, tenho certeza, se eu não ligasse ela jamais confiaria em mim.
- Oi, Solange.
- Carol, você está voltando? - perguntei
- Estou no apartamento de Luisa, pegando umas roupas para ela. Você precisa ir embora, não é?
- Não é isso. Acho que ela precisa ser vista por um médico o mais rápido possível - falei.
- O que foi que aconteceu?
- A febre não cede e ela vomitou muito, mal consegue se manter de pé. Acho que é o caso de trazer um médico aqui para examiná-la - expliquei.
- Minha mãe é médica. Vou pedir para ela ir ai agora. Você pode recebê-la? Chego já - falou.
- Não se preocupe. Não vou sair daqui.
A mãe de Carol chegou em 10 minutos. Uma mulher bonita, simpática, na casa de seus 65 anos. Lembrava muito a filha no jeito com o qual ocupava os espaços, dominava as situações.
Antes de ir até o quarto ver Luísa, ela quis saber o que tinha acontecido. Conversamos e a coloquei a par dos últimos acontecimentos, já que Carol tinha feito um histórico da situação e ela sabia uma boa parte do quadro.
Ela então entrou no quarto e encontrou Luísa com um moletom de Carol, cochilando. Ela olhou para a ex nora com dó de ter que acordá-la.
- Lu, sou eu. Desculpa, mas preciso que acorde para que eu possa dar uma olhada em você - falou carinhosa.
Luísa abriu os olhos confusa e, quando a viu, chorou, abraçando-a. Embora eu não conhecesse as relações, a cena me tocou.
- Ei, mocinha, que história é essa de ficar me dando susto, hein! Não tenho mais idade pra isso não, viu? - disse a ex sogra.
- Que saudades de você - disse Luísa, soluçando.
- Eu também! Mas agora eu tô aqui com você. Não precisa chorar, tá bom?
Carol chegou na porta do quarto exatamente nessa hora. Olhou pra mim sem entender o que estava acontecendo e perguntou baixinho:
- O que aconteceu?
- Ela se emocionou muito quando viu sua mãe e parece que a recíproca foi verdadeira - julguei.
- Não tenha dúvida. Luísa é a filha perdida da minha mãe. Ela já a examinou? - quis saber.
- Ainda não. E acho que você não devia apressá-la pra isso. Parece que as duas estavam precisando desse encontro - sugeri.
- Tem razão.
Depois de um longo abraço, a mãe de Carol pediu que saíssemos do quarto para que ela pudesse examinar Luísa.
Cerca de 30 minutos depois, ela saiu do quarto, chamou Maria e pediu que levasse um chá de erva doce para Luísa. Depois veio até nós e sentou-se na poltrona a nossa frente.
- E então? - perguntou Carol
Perguntei se Carol queria que eu saísse, mas ela disse que não.
- Bom, a bronquite se transformou numa pneumonia. O antibiótico, claramente, não está dando conta do quadro. A garganta está muito inflamada e suspeito que seja estafilococos, uma bactéria resistente a uma grande parte dos antibióticos, o que explicaria o agravamento da situação. O vômito me preocupa porque mostra uma reação desesperada do corpo, que, por sua vez, acaba debilitando-a ainda mais.
- O que você aconselha, mãe? - perguntou Carol.
- Você sabe o quanto eu gosto dessa menina e o quanto eu estou chateada com você pelo que você fez, né?
- Mãe, isso vem ao caso nesse momento?
- Não, mas nunca vou perder qualquer oportunidade de fazer você se sentir culpada - falou beirando um seriado de comédia americano, o que me impediu de manter a seriedade.
Eu ri involuntariamente, o que fez com que Carol também risse.
- Você acha que eu não me sinto culpada, mãe? Eu amo Luísa. Mas chamei você aqui para nos dizer qual é a situação.
- OK. A situação é séria, Carol. Eu vou ligar para um amigo meu que é pneumo e relatar o caso. Mas minha indicação é de internar imediatamente - determinou.
- Internar?
- Não tem outra forma de reverter o quadro, que não seja mediante medicação venosa, que só pode ser administrada no hospital - explicou.
- Você pode ligar então para o seu amigo? - pediu.
- Claro. Vou fazer isso agora.
Depois de 20 minutos ao telefone, a mãe de Carol disse que o médico estaria esperando no hospital.
Enquanto Carol preparava, escondida, uma sacola com as coisa de Luísa, eu ajudava ela a se vestir e a mãe de Carol explicava a necessidade do procedimento, já que a resistência de Lu em ir ao hospital era enorme. A princípio, não revelamos que ela seria internada, apenas que seria preciso realizar alguns exames.
Carol perguntou se eu podia ir com elas para o caso de precisarem de algum apoio. Me dispus prontamente.
Chegando ao hospital, o pneumologista já estava a nossa espera e começou a realizar os exames - RX, exames de sangue e urina.
Luísa ia ficando cada vez mais mole e impaciente.
Os primeiros resultados iam saindo e a gravidade do caso se confirmando.
O parecer do médico foi conclusivo. Não havia como continuar o tratamento em casa. Ele optou por coloca-la na UTI e ministrar antibióticos venosos.
Segundo a mãe de Carol, agora era esperar Lu reagir. Mas, enquanto isso, quem reagiu super mal foi Carol. Desde que o médico deu o diagnóstico de pneumonia aguda, ela desabou. Ficou muito nervosa, irreconhecível. Aquela mulher forte, decidida, simplesmente foi reduzida a pó.
Sobrou pra mim acompanhar Luísa até a UTI.
- Por que Carol não veio? - perguntou ela.
- Ela precisava assinar uns documentos na recepção, mas no horário de visita ela vem ver você - despistei.
- Eu não queria ficar aqui sozinha - choramingou.
- Meu bem, prometo que vai ser por pouco tempo. Você devia aproveitar para descansar um pouco. Quando acordar já vai estar na hora da visita. Quer que traga alguma coisa pra você se distrair? Um livro, uma revista? - ofereci.
- Pode ser um livro de suspense - sugeriu.
- Então vamos fazer o seguinte, eu vou ter que sair agora, mas volto mais tarde com o melhor livro de suspense que você ainda não leu! Combinado?
- Combinado. Você pode pedir para Carol vir mais tarde?
- Acho que eu nem vou precisar pedir, mas pode deixar comigo, tá bom? Agora, dorme um pouco.
- Tá bom.
Foi difícil deixá-la ali sozinha. Confesso que quase desabo também. Mas me segurei.
Encontrei Carol conversando com a mãe na recepção, ainda sem conseguir conter as lágrimas. Por mais que a mãe explicasse que aquele era um procedimento normal para casos como aquele, o ambiente de UTI, de fato, parecia assustador.
Fomos tomar um café na lanchonete do hospital e falei para Carol que Luísa tinha ficado bem, embora um pouco assustada. E, claro, que tinha perguntado por ela várias vezes. Ela chorou ainda mais.
Me despedi dela e fui trabalhar um pouco. Quando saí do banco, passei numa livraria para cumprir minha promessa e então fui para o hospital. Cheguei 30 minutos antes do início da visita. E o que encontrei foi um pequeno tumulto.
Carol tinha avisado à mãe de Luísa.
Ela estava muito nervosa e o clima estava tenso. Então, achamos por bem que ela entrasse primeiro, junto com Carol. Ela ficou lá por 15 minutos e saiu bem mais tranquila depois que viu que estava tudo sob controle.
Carol permaneceu lá dentro e eu entrei para me juntar a ela.
- Ei, como está você?
- Inchada de tanto dormir! - disse ela, já um pouco mais corada.
- Adivinha o que eu trouxe pra você? - perguntei.
- Netflix?
- Eu tentei, mas me barraram - brinquei, sussurrando. Mas o livro deixaram entrar!
- Oba!
Carol estava mais contida, mas ainda claramente preocupada. Ficou todo o tempo da visita alisando os cabelos de Luísa e conversando com as enfermeiras para saber se estava tudo bem.
Foram mais três dias de UTI e outros três no quarto, até que Luísa recebesse alta.
Carol dormiu todos as noites no hospital. Durante o dia nos revezávamos eu, Marina, Marcos e as mães de Carol e Lu. Foram dias intensos.
Lu foi pra casa com uma série de restrições, muitos remédios, fisioterapia respiratória e sem liberação para trabalhar ou fazer exercícios físicos. Portanto, repouso absoluto por mais uma semana.
O escritório transferiu uma estagiária para o apartamento de Carol, contra a vontade dela e do médico, mas foi um consenso autorizar, de modo a manter Luísa ocupada e ativa, ou ela enlouqueceria.
Fim do capítulo
A situação de saúde de Luísa não era das melhores, então ela não teve condições de narrar o capítulo de hoje. Carol também está bastante abalada. Mas tem mais alguém nessa história que tem direito a contar sua parte.
Um capítulo Narrado por Solange, o que acharam?
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Jebsk
Em: 16/08/2018
Autora,
Solange nãoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo.
Mas adorei sua nota no final capítulo.
Acredito que nesse tempo na UTI, a dona Luisa, reflita sobre o amor que sente por Carol e que reatam logo.
#PartiuLuaDeMel
Resposta do autor:
Depois da UTI, ou o amor se recupera ou morre de vez. E ai, que fim teremos?
Naiara Gopin
Em: 14/08/2018
A Solange me cativa com o seu autocontrole e maturidade. Ela é muito bem resolvida, uma mulher fantástica. Eu ficaria extremamente feliz se encontra-se uma Solange na vida.
O coração da Luiza pertence à Carol, então acho que a autora poderia fazera as duas se entenderem de vez. Rsrsrs
Resposta do autor:
Eita povo apressado! Na vida de vocês, as coisas são rapidas assim é?
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mtereza
Em: 14/08/2018
Amei sempre fui do time de Solange mais ela resolveu meio que abdicar da Lu no plano amoroso e se tornando só amiga bem que ela poderia conhecer alguém que fosse inteiramente dela eu poderia me oferecer mais acho que Minha Preta me mataria kkkk
Resposta do autor:
Tereza, você se oriente, arrume confusão com a Preta não, rapaz!
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