Capítulo 36
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 36
Leozinho fez o sinal da cruz e olhou para o teto. Natasha estava obcecada em vingar-se. Na sua opinião, ela já estava passando dos limites.
-- Quanta maldade, Natasha. Da Marcela e da Sibele, eu não tenho pena, mas da Carol e do Sidney, eu tô com uma peninha. Tem certeza que vai fazer isso?
Natasha levantou os olhos da tela do celular e olhou para ele com um sorriso maldoso.
-- A única coisa que tenho certeza, é da minha beleza. O resto é tudo experiência.
Impaciente, ela afastou o cobertor e se levantou da cama.
-- Tantas pessoas morrendo neste mundo. Será que é porque elas ignoram essas correntes de WhatsApp? -- Natasha jogou o celular sobre a cama e caminhou em direção ao banheiro.
-- Sei não, musa. Prefiro não brincar com essas coisas.
Natasha voltou para o quarto. Leozinho tinha o dom de deixá-la em dúvida.
-- Será?
-- Escuta só -- Leozinho pegou o celular do bolso e leu uma mensagem que acabara de receber:
"Miranda Pinsley estava voltando do colégio a pé no sábado. Ela tinha recentemente recebido esta mensagem e a ignorou. Então ela tropeçou numa pedra solta na calçada e caiu dentro do esgoto, e morreu. Isso pode acontecer com você!!!"
Natasha olhou para ele assombrada.
-- Escuta a mensagem que acabei de receber:
"Dexter Bip, um garoto de 13 anos, recebeu essa corrente e a ignorou. Mais tarde, no mesmo dia, ele foi atropelado por um carro e sua namorada também. Ambos morreram. As famílias dos dois estavam tão tristes que todos os seus parentes ficaram loucos e passaram o resto da vida num manicômio. Isso pode acontecer com você!!!"
-- Ai, ai, ai, chefe. Se eu fosse você não quebrava a corrente.
Natasha coçou a cabeça.
-- Sei não, acho meio exagerado. Escuta só:
"Passe para 15.067 pessoas nas próximas 48 horas ou alguma coisa horripilante acontecerá com você, como aconteceu com essas pessoas".
-- Que tragédia! -- Leozinho ficou pensativo -- Mas é fácil, chefe. É só marcar todos os seus contatos e enviar.
-- E você acha que eu tenho 15.067 pessoas no meu Whats? Sua anta! -- Natasha entrou no banheiro, mas deixou a porta aberta.
-- Pensei que as pessoas ricas tivessem milhares de contatos no Whats -- Leozinho parou diante do espelho, virando-se de um lado para outro para ver melhor a sua imagem.
Natasha saiu do banheiro já vestida para sair.
-- Pobre é que tem milhares de contatos. Tem o Whats do padeiro, do vendedor de ovos, do tiozinho da pamonha, do cara das conservas, da mulher dos detergentes. Sem contar os grupos de família, de trabalho, de vizinhos, de crochê, de pintura.
Leozinho sentou-se na cama e olhou surpreso para a empresária vestida de bermuda e camiseta.
-- Vai aonde, nesse Look tão despojado?
-- Vou passear de moto, pela ilha.
-- Vai sozinha?
-- Acho que vou convidar a Lalesca para ir comigo.
-- Hum. Podia ao menos dar uma arrumadinha na cama, né? Está uma bagunça. Coitada da camareira.
Ela suspirou.
-- A cama é bem grandinha, pode se arrumar sozinha -- Natasha olhou-se no espelho e sorriu para a sua imagem -- Linda!
-- Quando eles vão para a Ilha Carolina?
-- Provavelmente na segunda-feira. Só falta mais um detalhe -- Natasha fitou o gerente e sorriu maldosa -- O detalhe mais importante -- uma risada escapou de seus lábios -- Vou tomar café no restaurante. Vai ficar?
-- Pode ir. Vou logo em seguida.
Enquanto Natasha saiu para tomar café, Leozinho ligou para Sidney.
-- Oi Sisi, a chefinha está saindo para passear de moto. Vamos começar a colocar o nosso plano em ação. Faz o seguinte...
Sidney bateu à porta do quarto de Carol e entrou.
-- Olá meu amor! Você dormiu bem? -- ele indagou em um tom divertido de voz.
Carol se espreguiçou e exibiu um sorriso feliz.
-- Maravilhosamente bem.
-- A Natasha está saindo para um passeio de moto. Por que não vai com ela? O dia está lindo -- perguntou Sidney de repente -- Seria melhor do que ficar nesse apartamento sozinha pensando na vida.
-- Se ela quisesse que eu fosse, teria me convidado. Você não acha? -- a ruiva se levantou da cama, esfregando os olhos com o dorso da mão e caminhou na direção do banheiro com passadas preguiçosas.
-- Então, você não vai? -- perguntou, decepcionado.
-- Não, acho que não quero ir -- ela berrou do banheiro -- Não custava nada ela ter me convidado.
-- Mas deveria ir -- insistiu Sidney com firmeza -- Olhe, você está aqui há vários dias e nesse tempo todo nunca saiu para se divertir. Não acha que está na hora de começar a encontrar as pessoas, frequentar os bares, restaurantes. Essa é uma ilha para pessoas em férias, há sempre um programa divertido para fazer.
Quando chegou, Marcela e Sibele a convidaram para sair, mas recusou com frieza. Não estava com clima para diversão.
-- Quem sabe outro dia -- respondeu Carol. Hoje não. Não podia sair e fingir que se divertia.
Sidney era teimoso e continuou a insistir.
-- Você vai -- ele disse com um jeitinho todo especial -- Não discuta comigo. Ou será que prefere que a Lalesca vá junto com a Natasha? -- provocou sentando-se na cama -- Aquela mulher linda de cabelos longos é um perigo.
-- Por que está dizendo isso? -- Carol perguntou, tentando abafar a preocupação que começara a tomar conta dela, enquanto ele falava. Lalesca ficava o tempo todo se jogando para cima da Natasha. Pensou desgostosa. Ela não fazia a menor questão de esconder o seu interesse pela empresária.
-- O Leozinho me contou que a Natasha estava pensando em chamar ela para passear -- Sidney afirmou, balançando os ombros.
Carol olhou, pensativa para o sol brilhando lá fora.
-- Sabe de uma coisa, meu amigo? Você tem razão. Eu preciso sair dessa concha e esta é uma ótima ocasião para isso.
-- Agora senti firmeza. Essa é a mulher forte e animada que conheci nos Estados Unidos -- disse, dirigindo-se para o closet -- Faço questão de escolher uma roupa bem sexy para você vestir -- Sidney tinha um pequeno sorriso vitorioso nos lábios. Mais uma vez havia conseguido mexer com os brios da amiga.
Natasha estava atravessando o saguão do hotel, mas deteve-se relutante quando ouviu uma voz chamar atrás e se virou.
-- Senhorita Natasha -- Paloma se aproximou, acompanhada de dois homens -- Esses senhores estão a sua procura.
-- Ah, claro -- afinal, ela pensou com um certo alívio. Era o detalhe que faltava -- Obrigada, Paloma. Pode deixar que eu me entendo com esses senhores -- Natasha esperou que a recepcionista saísse, então se virou para os dois homens -- Vocês são os caras do zoológico?
-- Sim, trouxemos tudo o que a senhorita pediu: a onça-pintada, o elefante, a girafa, o gorila e a anta. Estão todos lá no caminhão.
-- Shii... Fala baixo que ninguém pode saber -- ela olhou rapidamente ao redor para se certificar que ninguém havia escutado -- Vou pedir para o Rambo levar vocês e os animais até a Ilha Carolina. Essa é uma operação sigilosa portanto, boca fechada -- instruiu Natasha, soando levemente irônica.
Marcela caminhava de um lado para o outro, impaciente. Só parava de vez em quando para dar um gole em sua taça de vinho. Sibele, sentada no sofá, observava tudo com um olhar preocupado.
-- Imagina se vou me sujeitar a isso -- Marcela indignada, não parava de resmungar.
Sidney passou a mão pelo rosto. Tinha certeza que essa ida para a Ilha Carolina, era parte do plano de vingança de Natasha.
-- Meu Deus! A Carol acabou de me contar.
-- Eu não vou. O meu gesso só vai ser retirado semana que vem.
-- A Carol comentou isso com a Natasha e sabe o que ela falou, Sibele?
-- Hum -- a médica olhou para o rapaz com curiosidade.
-- Que isso não será problema. Não vai faltar homem para carregá-la no colo de um lado para outro.
Sibele engoliu em seco.
-- Que horror! Dispenso. Prefiro as minhas muletas.
-- Vocês não acham essa atitude da Natasha estranha demais para quem tratava a irmã como uma princesa? -- Marcela olhou para Sidney, depois para Sibele, com expressão sombria e desconfiada nos olhos castanhos -- Será que ela descobriu algo a nosso respeito?
Desta vez foi Sidney quem se levantou e caminhou nervosamente pela sala. Marcela era esperta demais, cética demais para aceitar passivamente, sem indagações.
-- Eu acho que ela quer que a Carol vença com seu próprio esforço. Não acredito que ela vá abandonar a irmã a própria sorte -- Sidney olhou para o rosto de Marcela, esperando ver alguma reação as palavras dele -- Ela está nos testando.
Marcela não pareceu convencida. Houve um silêncio incomodo e ele procurou desesperadamente alguma coisa para dizer.
-- Tenho certeza que no máximo uns dois dias, ela manda nos buscar.
-- Será que Carol cogitou a possibilidade de recusarmos?
-- Carol e eu já aceitamos e, caso vocês não aceitem, serão convidadas a se retirarem imediatamente da Ilha do Falcão.
Os olhos de Marcela se abriram e, por alguns segundos, ela e Sibele se olharam fixamente.
-- Nós também vamos. Não é mesmo, Sibele? -- as palavras saíram com dificuldade de sua boca -- Mas, se Natasha pensa que vou me sujeitar a ficar mais que dois dias naquela selva, ela está muito enganada.
Carol respirou fundo e saiu do elevador. Olhou para todos os lados e avistou Natasha em um canto mais distante da recepção. Ela parecia animada, conversando sorridente com dois homens. Por um instante, pensou em ir embora dali, da mesma maneira como tinha chegado.
Ela é realmente linda! -- Carol murmurou, respirando fundo e se aproximando.
Tocou-lhe o ombro, com delicadeza. Não queria que ela se assustasse.
-- Bom dia! -- disse, com cautelosa.
Natasha a viu e parou de falar. Acenou para os homens com uma das mãos, em um gesto de despedida. Eles manearam a cabeça e se afastaram rapidamente.
-- Bom dia! -- Natasha cruzou os braços e ficou admirando-a. Carol parou diante dela, em uma calça preta justa, as botas de salto fino ressoando alto de encontro ao piso. Ela era linda, elegante, a boca feminina bem delineada, os olhos castanhos vivos e curiosos. Sou mesmo uma boboca. Admirando uma mulher que só a enxergava como um degrau para a riqueza. Pensou irritada.
-- Vai passear? -- Carol, perguntou sorrindo.
-- Vou dar uma volta de moto -- Natasha respondeu, friamente.
Carol surpreendeu-se. A empresária a encarava com completo desdém. O sorriso se desfez.
-- Olhe, não sei qual é o seu problema, mas será que podia pelo menos me tratar com educação?
Natasha sentiu vontade de esmurrar-se. Estava fazendo tudo errado. Carol nunca se apaixonaria por uma grossa antipática e insensível. Então, a fisionomia fechada e mau humorada mudou completamente.
-- Desculpa, Carol -- ela se aproximou sorrindo e abraçou-a -- Estava resolvendo um problema do hotel e isso me deixou de mau humor. Desculpa mesmo.
Natasha foi recompensada com um olhar brilhante, olhar que confirmou que Carol havia acreditado. Satisfeita, deu um beijo em seu rosto. Se aquilo era um jogo, tinha acabado de marcar o primeiro ponto.
-- A senhorita dormiu bem? -- ela murmurou, sem saber direito o que dizer.
-- Sim, descansei bastante, estou pronta para o passeio de moto -- perguntou Carol, no auge do entusiasmo.
Natasha olhou surpresa para ela e levantou uma sobrancelha, como se lhe perguntasse: Quem te convidou?
-- Ah! Se você me levar, é claro -- Carol passou as mãos pelos cabelos, sentindo o rosto ruborizado.
Aquilo soou muito engraçado, e Natasha não conseguiu evitar o sorriso e muito menos negar o pedido.
Carol estremeceu só de fitar os lindos olhos verde-jade.
-- Você já andou de moto antes?
Carol meneou a cabeça, sentindo-se empolgada.
-- Várias vezes -- respondeu.
-- Em uma daquelas? -- Natasha apontou para o lado de fora, onde uma moto, enorme e poderosa estava estacionada.
-- Uau! -- Carol correu até onde a moto estava e deu uma volta em torno dela -- É linda! Gigante!
Ela observou quando Natasha levantou uma das pernas e sentou-se no banco da moto. A visão era tão sexy que Carol ficou petrificada.
Natasha entregou um capacete para ela.
-- Sobe -- ela pediu e estendeu-lhe a mão para ajuda-la. Carol sentou de pernas abertas na moto.
A ruiva escorregou, ficando com o corpo colado ao corpo de Natasha.
-- Desculpa -- murmurou envergonhada, enrubescendo enquanto tentava ir mais para trás.
-- Não precisa se desculpar -- Natasha pegou as mãos de Carol e colocou-as ao redor de sua cintura -- O banco é projetado para ser assim. É só segurar-se bem firme e relaxar.
Relaxar? De que jeito? Indagou-se Carol. Aquele corpo malhado, o perfume provocante. Tudo a excitava loucamente.
-- Não tenha medo -- Natasha propositalmente, colocou uma mão na coxa dela -- Incline-se contra mim e segure firme.
Um tremor atingiu Carol assim que as mãos dela tocaram sua coxa. Mesmo por cima do tecido da calça, chegava a arder de tão quente.
Então ela ligou a moto e saiu, o motor potente da moto, roncou na avenida principal.
Carol sentiu medo de cair e instintivamente suas mãos se apertaram mais ao redor de Natasha. Mas, quando ela sentiu a mão de Natasha apertando a sua, transmitindo segurança, ela começou a relaxar.
A avenida margeava a praia e tinha uma vista tão maravilhosa, que Carol estava sem fôlego. Minutos depois, Natasha parou a moto no acostamento. Saltando da moto, Natasha virou-se para ajudá-la, segurando-a pela cintura. Na Ilha do Falcão, as pessoas eram agradáveis e hospitaleiras. Os comerciantes as cumprimentavam sorridentes, os moradores, na grande maioria funcionários de Natasha, acenavam com cortesia.
Carol sentou em um banco, Natasha sentou ao lado dela.
-- Não dou motivo para eles me amarem, mas, mesmo assim, eles me amam -- Natasha brincou -- Você está gostando da ilha?
-- Estou completamente apaixonada por ela.
Aquela declaração provocou em Natasha, um sorriso tristonho. Andreia é tão falsa que nem nasceu, chegou em um contêiner da China. Pensou.
Permaneceram sentadas em silêncio, ouvindo o murmúrio das ondas que rolavam suavemente ao longo da praia.
-- Você gostaria de andar um pouco? -- perguntou Natasha, depois de alguns minutos -- Temos tempo de sobra. Vamos dar um passeio.
-- Vamos!
Carol tirou os sapatos e saiu caminhando na frente. A areia branca brilhava na luz do sol.
Natasha, surpreendeu-a quando pegou sua mão. Sentindo-se vulnerável, Carol sorriu. Saboreava cada momento daquele dia tão especial.
Depois de mais um curto trajeto ao longo da praia, elas chegaram a um ponto mais movimentado da ilha.
Carol caminhava pelo calçadão, fugindo do calor e observando os outros turistas bebendo e comendo nos bares com mesas ao ar livre. Como tinha feito um lanche leve pela manhã, começou a sentir fome.
-- Está maravilhoso aqui -- comentou num tom de voz baixo, quase com medo de estragar a magia da atmosfera -- Mas estou com uma fome danada. Você está?
Natasha sorriu
-- Perguntar se eu estou com fome é igual perguntar se eu preciso de oxigênio. Estou morrendo de fome! Meu estômago também não para de roncar -- ela parou, abruptamente -- Então vamos lá. Tem um restaurante maravilhoso logo ali na praça -- ela disse, segurando-a pela cintura e começando a caminhar -- Como diria o poeta: "Me dê comida e não flores".
Passaram pelo cais e foram em direção à praça. Carol sorriu para a senhora vendedora de flores e o senhor sentado em frente ao restaurante. Esbanjava simpatia. Ela se recusava a analisar a situação e suas consequências. Mais tarde, talvez, quando estivesse no quarto sozinha, consultaria o coração. Mas, agora, estava feliz e queria aproveitar o momento.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]