Despedida por Lily Porto
CapÃtulo 78 - Donatella
Toda vez que acordo, levo alguns segundos pra me situar. É, levo uns 15 segundos pra saber onde estou e o que estava fazendo até estar exatamente ali.
Hoje, acordei com a leve turbulência do avião. E o que fez com que eu me situasse dessa vez? Olhar pro lado e ver Anna Pacheco deitada no meu ombro, dormindo tranquila enquanto segurava a minha mão.
Aquela era a minha situação agora e dali em diante. Soltei um suspiro profundo e sorri dando um beijo na testa da minha portuguesinha e puxando o corpo dela um pouco mais junto do meu.
Eu não sei vocês, mas sou péssima pra dormir em viagens. Anna entrou no avião e apagou, eu até dei umas cochiladas, mas qualquer pequena turbulência me fazia acordar com o coração apertado.
Falando em aperto, que difícil foi deixar Paris, que difícil foi deixar nosso pequeno apartamento e a vida que construímos juntas. Sinceramente? Eu nunca fui tão feliz e completa.
Eu sei que pareceu loucura, impulso de adolescente, que as chances de dar errado eram bem maiores que as de dar certo. Mas deu certo, gente! Encaixou e foi incrível! Ainda bem que a Anna me fez aquela proposta maluca dela e ficou no meu pé até eu aceitar.
Tô até com vontade de tatuar uma pequena Torre Eiffel no pulso. Anna se animou com a ideia, e sugeriu que a gente fizesse também dois pequenos corações ao lado da imagem da torre. Já fiz o desenho e mandei pra um amigo tatuador especialista em tatuagens minimalistas que super curtiu a nossa ideia.
Sabe que os meus planos eram voltar direto pra minha cidade nova. Eu tinha que tentar retomar os meus estudos, prometi pra Anna que nada mais ficaria inacabado na minha vida, e a faculdade de Artes Plásticas era o primeiro passo.
Entretanto a Anna queria muito que eu conhecesse Sophie e Felipe e também queria "oficializar" as coisas pra família, e esse "oficializar" me deixava meio tensa sabe?
Porque? Um pouco pela possível reação negativa de Lourenço. A gente terminou numa boa e talz, a Anna até comentou que ele estava saindo com alguém. Mas poxa, ia ficar muito na cara que rolava um sentimento entre mim e Anna enquanto ambas éramos comprometidas com ele e com o Beto.
E um pouco também pela possível reação negativa da mãe dos gêmeos. A Bárbara era um amor, mas virava uma fera quando alguém mexia com as "crias" dela.
E bem ou mal eu já tinha mexido com um gêmeo e agora estava me aventurando com a outra. Tenho certeza que ela não aprovaria nosso namoro logo de cara. Que a gente teria no mínimo uma longa conversa, na melhor das hipóteses. Ah meu Deus, mas eu não posso fugir dessa vez! Tudo pela Anna, tudo pela Anna.
Era estranho voltar ao Brasil, eu estava recomeçando mais uma vez, mas pela primeira vez com alguém do meu lado. Não era mais uma nova história pra mim, era a nossa nova história. Pela primeira vez eu estava com alguém com quem eu estava realmente disposta a viver pelo resto da minha vida.
Já Anna, acho que nem pensava nessas coisas. Até diria que ela estava relaxada, mas na verdade ela estava eufórica, parecia criança em noite de Natal.
Eu ficava encantada com a maneira como ela se relacionava com a família. Contei pra vocês que gastamos uma nota com taxa extra de bagagem? Ela trouxe presente pra família toda, até para o Billy.
Ah... só Lourenço sabia a data certa da nossa chegada. Ideia da Anna de não preocupar as mães que haviam acabado de dar a luz aos seus irmãozinhos.
O meu plano então passou a ser fazer só uma visita rápida a família de Anna e torcer pra correr tudo bem. Ficar só o fim de semana mesmo e seguir meu caminho. Eu tinha muita coisa pra organizar pós viagem, tinha que correr pra não perder mais um semestre.na faculdade.
Com o tempo eu iria me ajustando com a Anna, em relação a como e quando a gente iria conseguir se ver. A gente não conseguiu conversar a respeito direito e esse era outro assunto que estava me machucando um bocado.
É que só de me imaginar um dia que fosse longe dela meu coração já se enchia de angustia e saudade. A minha pequena havia me acostumado mal demais com a delícia da sua companhia.
Nós fomos praticamente casadas por 6 meses lá na França e agora iríamos ter que aceitar um namoro a distância. Pelo menos por um tempo. Aff... tediante isso!
Nosso apartamento em Paris era pequeno, então a gente vivia se esbarrando o tempo todo. E fora que, confesso, eu fazia questão de "tocar" nela sempre que podia. Era o meu jeito de confirmar que tudo aquilo que estávamos vivendo era real.
Eu tinha a mania de segurar a mão de Anna na rua durante os passeios, ou quando víamos TV, mesmo que a programação fosse o jornal local, eu ficava roçando meu pé na perna dela por debaixo na mesa enquanto a gente comia e ah... o meu favorito, sempre dava um jeito de passar a mão na bunda da Anna quando ela se distraia. Ah como eu gostava daquilo. No começo ela ficava brava, me xingava até, mas depois de um tempo até se empinava pra eu apertar.
Que falta eu ia sentir de ter a minha namorada moleca sempre ao meu lado. Ao alcance das minhas mãos. Tomara que a gente consiga dar um jeito de não sofrer tanto com essa distância.
Estamos no taxi a poucos minutos da casa da Anna. Nossa, jamais imaginei voltar pra cá tão cedo. Tudo ainda me é muito familiar. Preciso tomar um milk shake de cupuçu antes de ir embora. O daqui é o melhor que já provei.
Pronto. Finalmente chegamos, achei que Anna fosse infartar ou matar o taxista que não estava com tanta pressa quanto ela.
Eu disse a ela pra entrar na frente e ver o pessoal, enquanto eu ia atrás com as malas. Mas ela fez questão de me esperar. Ela entrelaçou meus dedos aos dela, me olhou, selou meus lábios com um beijo e sorriu. Ah... como eu precisava dela, como eu precisava desse contato pra tomar coragem de entrar naquela casa novamente.
O coração batia na boca, uma ansiedade louca, aquela habitual vontade de fugir, um medo da raiva de Lourenço, medo da desaprovação da Barbara. Caramba, e agora? Todo mundo pronto pra uma festa de boas vindas e a minha presença ali podendo transformar tudo numa grande confusão.
Adivinhem qual o primeiro rosto conhecido que vimos ao entrar? Sim, Lourenço. Logo de cara, sem tempo nem pra um copo de água.
Eu não sei explicar porque, mas minha reação imediata foi soltar a mão da Anna. Eu sei que não deveria, mas ainda sentia que devia o mínimo de consideração a Lourenço e tudo o que vivemos. E aparecer de mãos dadas com a irmã dele não parecia muita consideração, rs...
Acho que era o lance de não ter falado com ele direito depois do término também. O lance de eu ter fugido de novo, sabe?
Sempre se deixa buracos quando se foge. Mas eu não iria mais fugir. Eu iria encarar, tapar meus buracos. Poderia até doer um pouco, mas era o preço a se pagar, era o certo a se fazer.
Antes que Anna pudesse puxar minha mão de volta, Lourenço me olhou com aqueles olhos doces dele, sinceros, acolhedores. Ele disse algo sobre a escolha certa do gêmeo ou algo do tipo, sorriu e me abraçou.
Caramba, nem nos meus melhores sonhos eu poderia supor uma reação daquela. Meu coração disparou de alegria. E eu retribui seu abraço cheia de gratidão.
Gente eu sabia que não estava fazendo nada de errado por estar com a Anna, mas sabia também que só conseguiria ser verdadeiramente feliz com a Anna se Lourenço aprovasse a nossa relação. E isso aconteceu da maneira mais incrível que eu poderia imaginar.
Oh coisa boa poder abraçar quem havia me feito tão bem por tanto tempo. Só por conta daquele abraço já teria valido a pena ter voltado.
O tempo fez tão bem a ele, ele parecia um homem seguro, mais cheio de ternura, responsável, feliz e ah... com uma baita aliança de compromisso no dedo.
Ele nos apresentou Verônica, biomédica muito simpática, que não entendeu bem o lance de eu ser ex namorada do atual namorado dela e agora atual namorada da cunhada dela. Mas o Lourenço tratou o assunto com tanta naturalidade que nem deu tempo de rolar um climão.
Nós conhecemos Sophie e Felipe. Ah... gente meus cunhadinhos eram as coisas mais gostosas desse mundo, dava vontade de morder.
Na verdade, Anna quase mata os dois por sufocamento. Nunca vi tanto beijo, tanto abraço, carinho, nossa. A irmã babona tirou um monte de fotos com os pequenos, deu banho nos dois, deu colo, colocou pra dormir e só não amamentou porque não tinha leite no peito.
Eu só fazia admirar e querer ainda mais ela comigo para o resto da minha vida. Ela tinha tanto jeito com criança. Totalmente diferente de mim que tinha medo de pegar no colo e aquele pequeno ser frágil e indefeso desmontar na minha mão.
Bárbara e Cléo choraram muito quando nos viram chegar. Elas sentiam muita falta da portuguesinha e eu as entendo, sei bem quanta falta Anna faz.
Enquanto Bárbara abraçava a filha, Cléo veio até a minha direção, me abraçou e me disse:
– Torci tanto para que vocês se acertassem. Torci tanto pelo amor de vocês, esse amor que vi nos seus olhos todas as vezes que vocês se esbarravam pela casa. Eu estou tão feliz. – disse me acolhendo em seu abraço.
Soltei um "obrigada", com a voz embargada. A Cléo era uma mulher forte e com uma história de vida admirável. Alguém em quem eu me inspirava e ter o apoio dela naquele momento era muito importante pra mim.
Já Bárbara foi mais contida, ela me deu um beijo de "oi", bem seco e mais nada. Aquilo me gelou a espinha. Mas como eu disse, eu entendia bem a reação dela.
Achei uma graça o Ju e a namorada, o tempo passa tão depressa, né? Até ontem ele vivia derramando arroz na mesa quando ia cortar o bife, agora já estava lá cheio de mimos com a namoradinha.
Eu me sentia tão bem ali, eles sempre me acolheram tão bem. Talvez eu nem precisasse ter fugido e agora Bárbara não estaria me fuzilando com os olhos, rs... meu Deus trocar de namorado e repetir a sogra não era algo muito fácil não.
Bem, Anna está no banho, Junior foi com Lourenço deixar Verônica e Melissa em casa, Cléo e dona Margarida estão no quarto com Felipe e Sophie e Bárbara acaba de me entregar um copo de suco e me convidar para sentar aqui no sofá da sala. Clima de tensão no ar. Era a hora da tal conversa.
Sabe que nunca conversamos assim, nora e sogra quando eu namorava o Lourenço? Eu nem fazia ideia do que ela tinha pra me dizer. Mas estava apavorada.
– Sabe, Dona Nutella, eu teria mil e um sermões de mãe pra lhe dar. Poderia dizer coisas absurdas por você ter fugido daqui sem se despedir de ninguém ou ainda te questionar do porquê esconder esse tempo todo que estava com a minha filha em Paris – ela parou e tomou um gole de suco. – Mas a única coisa que eu tenho pra te dizer é que eu me vejo em você e que por isso não te julgo.
– Co... como assim? Eu não estou entendendo. – perguntei me arrumando no sofá.
– Não sei se a Anna te contou a história toda, mas eu fugi da Cléo, há muito tempo atrás. Ela tinha alguém, e eu julguei ser egoísmo alimentar o que eu sentia por ela naquele momento. Mas anos depois a vida me deu uma nova chance. E eu posso dormir todos os dias com a mulher que amo nos braços. A diferença é que você teve a sorte de nem precisar esperar tanto. Não perca essa oportunidade que a vida está te dando. – ela disse esboçando um sorriso.
– Com todo o respeito dona Bárbara, minha sorte se chama "Anna Pacheco". Ela lutou por mim, lutou pelo o que ela sentia, lutou por nós. Ela não quis esperar e se jogou, torcendo para que eu a pegasse. E eu a peguei. Meio no susto, mas peguei. Ela sempre viu em mim, algo que nem eu sabia que existia. Eu poderia fugir e recomeçar um monte de vezes antes de conhecer a sua filha. Mas depois que meus olhos cruzaram os dela, minha alma fez morada ali e agora só tenho forças pra ficar e torcer para que ela fique também. Lutar por nós para que ela não queira fugir de mim jamais. – eu disse entre lágrimas.
Estava tão mergulhada em tudo que estava sentindo naquele momento que nem percebi que Anna nos observava encostada na porta da cozinha. Quando me dei conta ela estava chorando também. Quis correr para abraçá-la mas teria que esperar o final daquela conversa importante primeiro.
– Eu sei que você vai fazer Anna feliz. Aliás, sei que ela já está. Nunca vi aqueles olhos brilharem tanto. Eu confio em você. Mas não será fácil. Anna é muito preciosa pra mim e você escolheu ficar, então faça com que ela seja preciosa pra você também. E quando surgir algum problema, não fuja mais, conversa com ela, conversa com a gente, você tem uma família agora. – Bárbara disse se levantando pra me abraçar.
Ah... como foi bom ter tido aquela conversa, aquele abraço sincero. Anna teve mesmo a quem puxar. Bárbara também era uma mulher incrível, admirável e digna de se espelhar. Quero muito daqui a uns anos formar uma família feliz como a dela.
Anna não se conteve com a cena e correu pra nos abraçar também.
– Eu amo vocês duas, muito! Obrigada por tudo! – a minha namorada disse molhando nossos ombros com as suas lágrimas.
Dia longo, nossa, estou aqui no quarto de Anna, deitada em seu colo e agradecendo a Deus por tudo ter corrido bem. Sabe que esse lance de ficar invés de fugir pode mesmo dar certo?
E na verdade está dando certo, nós brigamos de vez em quando por ciúme, ideias diferentes, coisas assim. Mas na maior parte do tempo a gente se curte muito. Como disse antes namoro a distância é realmente tediante, mas quando se está com quem se ama as coisas se tornam mais leves, afinal de contas é um benefício para ambas.
A Anna vem pra minha casa mais do que eu vou pra lá, é por conta do lance da privacidade entre nós e tal, mas no mínimo uma vez por mês eu faço questão de passar um final de semana na casa dela, pra matar um pouco da saudade dos meus cunhadinhos fofos.
E sempre que estamos lá fazemos passeios entre casais, uma vez ou outra a Cléo e a Bárbara nos acompanham também, ou então nós levamos os pequenos, claro que nem sempre com elas alegres, afinal elas trabalham durante a semana e mesmo já tendo feito várias mudanças nas suas rotinas diárias o tempo que passam com os pequenos não é suficiente para matarem a saudade deles.
E como disse a vocês quando chegamos da França, a Anna é uma irmã “babona”, mas o que eu não sabia era que eu e a Verônica nos tornaríamos cunhadas “babonas” também.
Então é isso gente, a cada dia que passa eu me sinto mais apaixonada pela minha linda portuguesinha e me sinto mais parte dessa família maravilhosa que me acolheu de braços abertos. E a minha vida agora é assim, dedicação aos estudos e ao trabalho durante a semana, e nos finais de semana dedicação ao meu amor e a minha nova família.
Fim do capítulo
Bom dia!!!!
Um dia de paz a todas e um ótimo final de semana.
Bjs.
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Mille
Em: 11/08/2017
Oi Lily
A Barbara poderia ter feito um medo na Nutella, kkkkkkkkkk
Tudo de bom para todas e fiquem felizes.
Bjus e até o próximo capítulo, um ótimo final de semana
Resposta do autor:
A Bah tocou o terror um pouquinho Mille, viu como ela recebeu a Dona? A moça ficou receosa até, rsrsrsrs. Sogras tem dessas, ainda mais a Bah sendo a super mãe que é.
Bjs linda, se cuida.
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Socorro de Souza
Em: 10/08/2017
Essas duas foi uma tremenda surpresa que deu mto CERTO...
amo as duas...
que familia linda!!!
Resposta do autor:
Pois é Socorro, que bela surpresa neah. Foi uma paixão que nasceu, cresceu e se fortalece mais a cada dia.
Bjs querida!
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