CapÃtulo 8
Durante todo o caminho, Isadora observava o jeito da amiga que estava sentada no banco da frente com Enrico, ele percebia, pelo retrovisor, a forma doce como à loirinha olhava para morena que permanecia calada, analisando tudo o que havia acontecido.
“Por que ela está tão pensativa? Será que fui muito grosseira?” – Isadora tentava desvendar os pensamentos da morena.
“O que realmente está acontecendo comigo? Será que foi por isso que mamãe veio conversar naquela noite? São tantas dúvidas que não sei responder a mim mesma... E ainda tem a Isa... – coçou a cabeça e virou o rosto para olhar a estrada - Ela está magoada com a namorada, ou será que ela terminou?” – concluindo este pensamento, ela abriu um imenso sorriso.
-- Que sorriso é este Cristina? Alguma coisa engraçada?
-- Nada de interessante, apenas lembranças da minha infância.
-- Hum... Por que você não conta?
-- Deixa de ser intrometido Enrico – começava a se chatear.
-- Às vezes eu me pego lembrando coisas, de quando eu era pequena e também começo a sorrir do nada. – Enrico e Melissa se olharam e começaram a sorrir. – O que foi agora? Falei algo tão engraçado assim?
-- Isa, apenas um detalhe, você ainda é pequena – disse Melissa após rir muito.
-- Oh Melissa Cristina, como você é odiosa! – declarou com o cenho fechado. Enrico ao ouvir o nome e perceber que a amiga havia parado de sorrir, não aguentou, caiu na gargalhada novamente.
Isadora percebeu que Enrico poderia ser um grande aliado, além de um poço de informações, resolveu sondá-lo.
-- Enrico, por que você não passa uns dias conosco? – perguntou do nada, causando espanto na morena que de imediato olhou para trás.
-- Por que está convidando-o?
-- Porque ela é educada Melissa Cristina. – respondeu com ironia, recebendo como resposta um grunhido.
-- Porque eu acho que seria uma boa companhia. – Isadora respondeu com um lindo sorriso. Na verdade, ela queria investigar mais sobre a relação do pai dele com o avô de Melissa, desde aquele dia, onde as duas pararam na casa do colono, Isadora havia suspeitado de alguma coisa, e esse seu lado investigativo era muito aguçado.
-- Pensando bem, até seria uma boa ideia, você poderia me ensinar a dirigir. – concluiu Melissa.
-- Mesmo? Oh! E seu pai me mataria – foi à resposta do segurança.
-- Vai Enrico, você já me ensinou coisa pior e ele não fez nada.
-- Mas o seu avô quase expulsou a mim e minha família da fazenda, além de querer me matar.
-- Vovô não fez isso, foi apenas uma acusação na brincadeira. – sorriu - Papai vive dizendo que vai lhe matar e nunca o fez.
-- Porque o senhor Daniel diz isso como brincadeira, e usa um tom diferente.
-- Vai dizer que você realmente acredita que meu avô é um assassino? Um coronel? – revirou a cabeça e insistiu - Ninguém nunca provou isso.
-- Ninguém nunca provou que não. – olhou rapidamente a morena – Melhor mudarmos de assunto.
-- Ainda vou provar que meu avô não é esse bandido que falam. – Isadora, prestou atenção em toda conversa e mais uma vez sentiu a necessidade em conversar com Borba.
Chegaram ao sítio e logo foram recebidas por Eliezer, apesar de um pouco doente, era um homem agradável, suave no tom de voz, e muito observador. Isadora se parecia muito com ele, nos traços, nos olhos, e talvez na cor de cabelo, já que agora estava grisalho. Ele parou diante de Melissa, segurando-a pelos ombros e olhando-a nos olhos.
-- Como você se parece com uma amiga da minha juventude. – Isadora ficou admirada com a reação do avô, enquanto Melissa ficou um pouco amedrontada no começo, mas, depois levou na brincadeira, quando o velho começou a elogiar sua beleza.
-- Então ela era linda! – concluiu a morena
-- Deixa de ser convencida Melissa! – gritou Isadora em tom de brincadeira.
-- Convencida? A Melissa C...
-- Agora estou preparada e se ousar completar este nome – ameaçou a morena – desculpe senhor Eliezer, estes dois gostam de me chamar por um nome meio esquisito.
-- Esquisito? Desde quando Melissa Cristina é esquisito? – ao ouvir o nome Cristina, o velho segurou na jovem como apoio, mas logo foi amparado por Enrico que o levou para dentro. – Vovô, o senhor se sente melhor? – perguntou Isadora passando a mão pelo rosto do avô.
-- Foi apenas uma tontura – respondeu olhando para Melissa – Venha cá jovem.
-- Sim – abaixou-se para ficar na mesma altura do velho.
-- Conheci uma Cristina, fomos amigos de infância e ela se parecia muito com você.
-- Cristina era o nome da minha avó, ela morreu de parto e em sua homenagem, resolveram colocar meu nome de Cristina. – o velho resolveu esclarecer mais sobre esse assunto depois, agora iria curtir a neta.
-- E você? Quem é você? Namorado de alguma das duas? – perguntou a Enrico, causando constrangimento geral.
-- Não vovô, Enrico é amigo da Mel.
-- Na verdade, trabalho para os pais de Cristina, ou será Melissa? – estava cheio de dúvidas de como chamar a amiga - Sou uma espécie de segurança e motorista da jovem morena. – concluiu com formalidade.
-- Não senhor Eliezer, Enrico é muito mais que isso, além de meu melhor amigo, também é meu anjo da guarda – olhou para o rapaz e lembrou a conversa no supermercado – Mas às vezes eu tenho que aparar suas asinhas. – recebeu uma careta como resposta.
-- Amigos de minha netinha, são meus amigos também, fiquem a vontade. Dorinha, meu amor, leve-os aos quartos.
-- Não será necessário para mim, voltarei assim que descarregar o carro – adiantou-se Enrico.
-- Fica só hoje Enrico – pediu a loirinha.
-- Realmente não posso, em outra oportunidade ficarei.
Melissa se identificou muito com o avô da jovem, era uma pessoa simples, sem meias verdades, diferente daquele povo com quem foi acostumada a conviver por imposição do seu avô, já que seus pais gostavam da tranquilidade assim como ela, e não demorou muito para se tornarem amigos.
-- Melissa, esse cavalo eu ganhei como pagamento de uma dívida – mostrou o velho Eliezer – Tentaram montar várias vezes, mas ele é muito arisco. Pensei em usá-lo apenas como reprodutor.
-- Mas ele é muito lindo! – estava admirada – Como é nome dele?
-- Toga.
-- Toga? Um cavalo lindo como esse... – alisava a cabeça do animal, beijando-o – Desculpa senhor Eliezer, mas um nome digno para este animal deveria ser Imperador.
-- Por favor, não me chame de senhor, pareço velho? – brincou – Chame apenas de Eliezer ou vô assim como Isadora.
-- Tudo bem vô – sorriu – Será que posso tentar montar nele?
-- No Imperador? – ela abriu um imenso sorriso. Isadora observava de longe, mas, ao perceber sua intenção, resolveu interromper a conversa.
-- Então? Posso montar este rapaz – permanecia alisando o animal.
-- De jeito nenhum! – interrompeu Isadora que chegava ao local – Vô, este não é o cavalo indomável? – e antes mesmo de Eliezer responder, ela concluiu com autoridade - Nada de ser a heroína do momento Melissa Cristina.
-- Isa vai sei moleza, ele é muito gentil, não é amigoão? – foi até um cesto e pegou duas cenouras e uma maçã, começou a cortá-las e ofereceu ao animal – Vem cá meu lindo – o animal aceitou e Eliezer percebeu o carinho que ela oferecia ao animal, e este, de certa forma retribuía.
-- Melissa, eu acho que ele gostou de você.
-- Vô, por favor, não alimenta ainda mais as loucuras dessa ai.
-- O que tem Isa? – piscou para loirinha - Posso tentar vô?
-- Vô? – cruzou os braços - Agora vai bajular para conseguir as coisas é?
-- Não sua bocó, ele que me deixou chama-lo assim. – olhou o animal e sorriu – Eu posso montá-lo?
-- Promete não se machucar? – o velho realmente via uma grande ligação entre o animal e a morena.
-- Palavra de escoteira! – brincou levantando a mão.
-- Melissa, por favor, ele é muito arisco... – Isadora estava muito apreensiva – E se você cair e se machucar?
-- Calma pequena, você vai ver como será fácil. – selou o animal – Ei Imperador, nós vamos brincar não é amigo? – alisou a cabeça do cavalo e beijou.
-- Mel, por favor – pediu carinhosamente alisando o braço da morena. Eliezer percebeu o carinho naquele pedido, e a energia entre os olhares quando se cruzavam.
-- Isa se eu cair do chão não posso. – passou o dorso da mão no rosto da loirinha e por último tocou seu nariz, piscou e depois montou o animal. Ela alisou um pouco e se abaixou como se falasse alguma coisa para o animal. Apertou as rédeas entre uma das mãos e a outra permaneceu alisando-o. Melissa saiu do cercado e foi em direção ao pasto, a princípio caminhando de vagar, adquirindo a confiança do cavalo. Quando os dois já estavam mais entrosados, a morena aumentou a velocidade, saindo a galope.
-- Ela realmente é muito boa, minha filha! – observou o velho.
-- Vovô, isso é perigoso. Já pensou se ela cai? Pode quebrar alguma coisa? Vocês não pensam nisso? São duas crianças.
-- Criança ou não, ela está adorando e parece que o Imperador também. – olhou de relance a neta – Você gosta muito não é?
-- Imperador? – tentou desviar o assunto.
-- Ela trocou o nome, Toga realmente não fazia jus ao animal. – o velho percebeu o rubor da neta e resolveu encerrar o assunto.
-- Vocês ainda me enlouquecem. A Melissa não ter juízo é compreensivo, só tem dezesseis anos, agora o senhor vô... – repreendeu com severidade o avô.
À noite, o assunto entre os dois variava entre a criação de gado e cavalos. Eliezer percebeu que a menina, apesar de ainda ser adolescente, entendia muito de criações, parecia ter nascido para aquilo. Isadora estava gostando do entrosamento entre os dois. As duas pessoas que mais amava no mundo, juntos, e amigos. Naquele clima, Eliezer foi aos poucos investigando sobre a vida de Melissa, descobrindo as origens da jovem.
As duas estavam aproveitando muito às férias. Todos os dias andavam a cavalo, Melissa com o Imperador e Isadora com Fava, um cavalo bem manso que Eliezer presenteou a neta, ele estava feliz, pois passou anos incentivando a neta a montar, e ela se esquivava, mas a morena havia conseguido isso, essa grande façanha.
-- Isa, aqui é um ótimo local.
-- Ótimo local para que? Melissa Cristina...
-- Para lhe ensinar a se defender. Alguns golpes são essenciais para a mulher se defender.
-- Vai mesmo me ensinar a lutar? – ficou feliz com a notícia, pois este era um pedido que a “pequena” lhe fazia há tempos.
-- A lutar não. Vou lhe ensinar a se defender.
-- Mas me defender apenas não é suficiente, quero fazer igual a você.
-- Isa, o que faço é me defender, ou pensa que saio por ai puxando brigas?
-- Tenha certeza disso Melissa Cristina? – referia-se ao dia que levou suspensão no colégio.
-- Estava lhe defendendo, o que é a mesma coisa, ou até mais sério. – Isadora a olhou com tanto carinho que foi automático beijá-la no rosto ao se aproximar. Melissa colocou a mão sobre o local e sorriu.
-- Vamos?
Melissa começou o treino com explicações simples, golpes rápidos em um boneco improvisado com sacos. Isadora aprendia rápido, estava atenta a cada gesto da amiga.
-- Oi vovô – beijou a cabeça grisalha – Já almoçou?
-- Não. Onde estavam? Porque demoraram? Só não fiquei preocupado porque você conhece bem a região e porque estava com Melissa.
-- Viu pequena? Desculpa vô, perdemos a hora, ela se empolgou com minha aula.
-- Aula? Que aula?
-- Vovô, Mel está me ensinando a lutar, ou melhor, defender. – avô olhou da neta para morena e sorriu.
-- Antes que lutem ou se defendam, vão se lavar, porque estou com fome.
-- Eu também. – disse Isadora passando a mão na barriga.
-- Novidade! – gritou Melissa de dentro do banheiro.
No outro dia, as duas haviam combinado de ir ao rio e depois treinar, mas não contavam com a tempestade que caiu a noite e se prolongou pela manhã, parando um pouco após o almoço.
-- Melissa você não está fazendo isso só para ser agradável? Realmente gosta de filmes antigos ou quer apenas conquistar meu avô?
-- Para que conquistá-lo? O que eu queria dele já tenho – afirmou piscando um olho para loirinha, que ficou sem ação diante de tal revelação.
-- Tudo bem sua “espertalhona”, pode ver os títulos dos filmes – tentou disfarçar sua falta de ação diante da revelação. – Escolha qualquer um, gosto de todos. – ficou na frente das prateleiras atrapalhando a escolha.
-- Isadora você sabe ser chatinha quando quer, sabia? – falou no mesmo tom debochado que a amiga havia lhe feito à pergunta anterior.
-- Não muito diferente de você que se acha demais: a mais esperta... A que ganha todas as apostas... A mais de tudo – disse cruzando os braços na frente da estante onde estavam os filmes.
-- Quer sair da frente? Quero ver os filmes disponíveis. – tentou tirar à baixinha, mas ela retornou ao local – Estou pedindo educadamente, antes que você conheça meu lado mais escuro – levantou uma das sobrancelhas.
-- Lado mais escuro? – deu uma gargalhada, permanecia com os braços cruzados - Não é tão esperta? Arrume uma forma de vir aqui e pegar um filme, porque eu não sairei da frente – desafiou.
-- Quer apostar como pego o que quiser?
-- Sempre que está em desvantagem você quer apostar alguma coisa, assim ganha tempo para pensar. Saiba perder Melissa – estava segurando o sorriso.
-- Quer ver como consigo o que quero? – levantou a amiga pelos braços, retirando-a do local, mas, ao seguir para um sofá de canto, tropeçou na ponta do tapete. Melissa se desequilibrou e deixou Isadora cair no sofá, e ela por cima. O contato entre os dois corpos emanava uma energia inexplicável. Melissa olhava dentro dos olhos verdes, que não conseguiam sustentar as duas safiras, recaindo até os lábios da morena. Centímetros separavam as duas bocas, por um momento, Melissa sentiu o coração da loirinha disparar, e sua respiração entrar em uma frequência acelerada, e, por um impulso, olhou para a boca de Isadora, inexplicavelmente, sentiu-se atraída por ela. Desejou tê-la, devorá-la, senti-la, queria saborear o gosto da amiga. Uma atração forte, como um imã, levava aquele contato, e por um momento se viu beijando-a, queria aquilo mais que tudo... O beijo tão esperado por Isadora, que estava sem ação diante daquela aproximação. A boca da morena estava quase colando aos lábios da loirinha quando seu avô interrompeu, chamando-a. Rapidamente Melissa acordou do transe. – “Faltou pouco para que eu estragasse minha amizade” – pensou Melissa.
-- Dorinha, minha neta você pode vir aqui por um momento? – gritou novamente o velho Eliezer lá de fora.
-- Si... Sim vovô – respondeu ainda sem conter a respiração e a frequência cardíaca acelerada, percebeu o mal estar nas expressões de Melissa – Caso a senhorita Melissa Cristina deixe de ser palhaça e saia de cima de mim – falou em um tom mais baixo, quase um sussurro, tentando amenizar o clima, tinha medo que ela interpretasse errado e se chateasse. Melissa saiu de cima da mais jovem, e sem entender caminhou em silêncio até a estante. Isadora a observou e não sabia o que falar - “Ela ia me beijar? Juro que senti que ela iria me beijar.” – pensou ainda admirada com a situação. Ela saiu e foi ao encontro do avô, mas antes, respirou fundo três vezes – Sim vovô.
-- Oh amor, estes são os nossos novos vizinhos – explicou para neta que tentou ser gentil com o homem mais velho e seu filho, um menino de aproximadamente vinte anos.
-- Boa tarde! – saudou o homem mais velho – Este é meu filho Anderson e meu nome é Estevão.
-- Boa tarde – disse Isadora tentando amenizar o rubor em sua face e os efeitos que seu corpo sentia em decorrência da cena entre as duas amigas – Querem entrar? Tomar um café quem sabe? – queria apenas ser gentil com os vizinhos do avô.
-- Não minha jovem, seu avô nos disse que você tem visitas e nós só viemos mesmo entregar as sementes que ele nos pediu para comprar.
-- Senhor Eliezer, quer que eu coloque estas sacas no galpão? – perguntou o jovem que estava admirado com a beleza de Isadora.
-- Não meu rapaz, eu mesmo as coloco.
-- Nada disso vovô – olhou para o rapaz – você poderia me ajudar a coloca-las? Meu avô não tem se sentido muito bem ultimamente.
-- Com certeza, mas não precisa me ajudar, estou acostumado e as levo sozinho. – o rapaz arrumou todas as sacas, levando-as em seguida ao galpão, sem perder de vista Isadora. Quando terminou, não resistiu e fez um convite à loirinha. – Haverá uma festa na cidade, no próximo final de semana, quem sabe você não me acompanha?
-- Olha, estou com uma amiga que deixou as férias de lado para me ajudar com meu avô, não seria educado da minha parte aceitar seu convite.
-- Pode leva-la, não terá problema, ainda mais se ela for linda como você – esta observação subiu até Isadora como uma bomba, deixando-a completamente irritada, mas ela procurou manter a calma, não deixaria o ciúme falar mais alto. – “Linda como eu? Ela é mais linda, mais gostosa, mais tudo e não vou expor a beleza dela no meio de uma festa para ser a novidade do momento e todos caírem em cima” – pensava com uma expressão irritada.
-- Desculpa, mas ela não curte festas, acho até que ela pensa em entrar para algum convento... – deu de ombros e sorriu - Só pensa em caridades e ajudar ao próximo.
-- Oh! Devem ser muito amigas para aturar esse tipo de beatice.
-- Sim, ela ajuda aos necessitados, como agora, abriu mão das férias para me ajudar.
-- Anderson, já acabou? Vamos indo filho.
-- Até mais. – despediu-se - Se quiser ir, procure-me, estarei à disposição – aproximou-se mais de Isadora e disse baixinho – Para você.
Após a saída dos vizinhos, Eliezer observou bem a neta e lhe perguntou:
-- Isadora, eu atrapalhei alguma coisa?
-- Atrapalhar o que vovô? – “O senhor atrapalhou a realização do meu maior sonho” – pensou disfarçando o nervosismo.
-- Não sei. Vocês estavam ocupadas com alguma coisa?
-- Estávamos escolhendo um filme... O senhor viu que vai chover e não podemos fazer nada?
-- Tudo bem. Vá lá, vou terminar de ajeitar as coisas por aqui.
-- Precisa de ajuda? – perguntou após observar o avô pegando alguns objetos.
-- Não. – olhou para porta de casa – Vá fazer companhia para Melissa, ela pode precisar de algo – pronunciou algo em tom de malícia e depois piscou para neta.
Isadora entrou na sala e percebeu que Melissa havia escolhido o filme, mas, não via a amiga, foi então que escutou os barulhos de milho pulando em uma panela, seguiu direto para cozinha, encontrou Melissa e Mercedes conversando animadamente, enquanto a morena fazia a pipoca.
-- O segredo Mercedes é balançar a panela ao ritmo do corpo – rebol*va enquanto a pipoca pulava. A cozinheira apenas achava graça com a cena. Uma menina rica, que podia ter tudo que quisesse, ali, descalça em sua cozinha, com um moletom surrado e uma camisa de malha manchada e ainda rebol*ndo para a panela. Isadora viu a expressão e interação entre a jovem e a mulher mais velha, sentiu-se orgulhosa por ter uma amiga como Melissa.
“Mas quem você engana Isadora? Ela não é sua amiga, é a mulher que você ama.” – pensava enquanto observava a tudo de braços cruzados, encostada a porta.
-- Será que essas pipocas realmente ficarão boas? – Melissa olhou em direção a porta e lançou um daqueles sorrisos que derretiam Isadora.
-- Quer apostar quanto como serão as melhores de sua vida?
-- Hum... Deixe-me pensar – disse colocando a mão no queixo – Que tal a louça do jantar?
-- Apostado – estendeu a mão para morena. – Mas não vale colocar requeijão. – declarou seria e recebeu uma careta como resposta.
O filme escolhido foi “E O Vento Levou”, as duas jovens passaram a tarde toda entretidas em assisti-lo, em alguns momentos, Melissa percebeu algumas lágrimas rolarem do rosto de Isadora, que parecia nem piscar. A pipoca foi bem aceita pela loirinha, ela acabou se rendendo e admitindo: aquela tinha sido a melhor pipoca da sua vida.
-- Oh pequena, tenho tanto dó de você – Melissa não perdia a oportunidade de ser irônica, já que era mais uma aposta vencida à custa da amiga – Estou extremante, compadecida de você – concluiu posando a mão sobre o peito em uma atitude de falsa compreensão.
-- Mel, alguém já falou que você é uma péssima vencedora? – perguntou Isadora lavando a louça do jantar.
-- Não.
-- Então eu falo: VOCÊ É UMA PÉSSIMA VENCEDORA. – jogou um pouco da espuma do detergente na morena.
-- Isa... Isa... Isa... Palavras, sempre palavras – era cada vez mais irônica e falava em tom baixo – Sabe que sempre perde as apostas feitas comigo – balançou a cabeça em sinal negação.
-- Argh! Odeio você Melissa Cristina – apontou com uma esponja cheia de espuma na mão, deixando a espuma escorregar para o chão.
-- Vamos, sei que sou péssima vencedora, mas preciso que termine isso ai logo, pois ainda tenho parte da nossa última aposta que não foi paga e eu ainda possuo o vale aposta cheio – disse se abraçando a mais jovem e segurando suas mãos, levando-as de volta ao balcão.
-- Que vale aposta é este? – perguntou erguendo uma das sobrancelhas imitando-a.
-- Aquela massagem magnifica que você apostou comigo, e eu, mais uma vez ganhei. – Isadora lembrou e engoliu seco, com os olhos de esmeraldas, vidrados nas lindas safiras – Venha, quero que termine logo, por isso vou ajuda-la.
Assim que terminaram, Melissa beijou o topo da cabeça loira, informando em seguida que iria tomar um banho.
-- Segunda parte... – passou a mão pelo rosto da loirinha – Agora tomo meu banho e você faz minha massagem. – Isadora abriu mais os olhos, surpresa com a proposta.
Isadora estava adorando os dias de férias na casa do avô, e sua felicidade era tão grande, que não deixou de ser percebida pelo próprio Eliezer;
-- Esta é a dona do seu coração meu amor? – perguntou o velho de forma natural.
-- O que vovô? – estava surpresa com a pergunta – Não entendi.
-- Meu amor, eu conheço você desde que nasceu, troquei suas fraldas e cuidei de você quando seus pais se separaram, não queira me enganar. – Isadora não viu outra forma senão admitir o óbvio.
-- Tudo bem vovô, é ela – pensou um pouco olhando as estrelas, estava de costas para porta, assim como seu avô.
-- Ela já sabe?
-- Não. – suspirou - Pensa em mim como uma irmã – disse com um sorriso amarelo recostando a cabeça no ombro do avô.
-- Não vejo isso filha. Ela tem muito carinho por você e uma proteção imensa.
-- Só isso vô.
-- Ela tem namorado?
-- Vovô, já viu o corpo, a educação, a beleza dela? Aqueles olhos? Impossível não ter vários urubus sobrevoando a área. – Eliezer sorriu e passou o braço por trás da neta, abraçando-a.
-- Mas você tem alguém? Lembro-me de ter comentado isso em uma das vezes que conversamos ao telefone.
-- Uma idiota que eu pensei que poderia substituir meu desejo por Melissa.
-- Filha, nunca tente substituir alguém importante assim, isso é acabar com sua felicidade. – os dois permaneciam de costas e não perceberam a morena se aproximando
-- Ela é tudo vovô – disse com um sorriso no rosto – Seu sorriso lindo, aqueles olhos sempre com um ar de malícia... Vô, ela é muito mais que desejei... Um sonho, eu a amo muito. – encostou-se mais aos braços dele – Vovô, não fala nada, Melissa não pode saber.
-- Por isso você está com este olharzinho triste não é?
“Ela tem outra pessoa e não quer me contar” – Melissa pensou quando pegou a conversa pela metade. Aquelas palavras lhe bateram forte, ela não sabia explicar, mas sentiu uma dor imensa em seu estômago, achou melhor retornar para o quarto e aguardar a loirinha, saiu sem ouvir Isadora concluir a conversa – Sim vovô é a Melissa a pessoa que invade meus sonhos todos os dias.
“Bárbara! Só pode ser a Bárbara, mesmo depois de tudo? Ela deve amá-la muito para aceitar uma traição assim”. – pensou após deitar na sua cama.
-- Por que não fala isso para ela?
-- Vovô, o senhor não entende – “Como explicar que a Mel é a maior pegadora que conheço?” – Mel é heterossexu*l*, e tem namorado, é muito paquerada, ela não me ama assim, e eu tenho... – baixou a cabeça – tenho medo de perder sua amizade se me declarar.
-- Não é isso que percebo.
-- Como assim? – aproximou-se do velho homem, que já havia se sentado em uma cadeira, ajoelhando-se a sua frente.
-- Ela lhe olha de forma tão intensa... Chega a ser mais forte do que a forma como você a olha. Ela faz tudo para lhe agradar e estar sempre preocupada com seu bem estar.
-- Amizade vovô, ela me tem como a uma irmã. – concluiu em tom de lamentação, olhando para o chão. Sentiu a mão do seu avô erguendo sua cabeça.
-- Não vejo isso. Converse com ela e procure se abrir – aconselhou o velho homem antes de se recolher. – Boa noite amor. – beijou a testa de Isadora – A conversa é a chave para solução de grandes impasses e problemas.
-- Boa noite vovô. – viu o homem sair e ficou pensando sentada na mureta da varanda observando a noite estrelada e imaginando aqueles olhos azuis ali, abraçada a ela, com projetos de vidas unidas, planos para o futuro que só incluísse as duas, então sentiu a falta da morena.
– “Mel está demorando tanto neste banho...” – resolveu ir atrás da amiga, entrou no quarto e a viu – Ei, o que aconteceu? Pensei que tinha caído dentro do ralo ou estava tão suja que se desintegrou – perguntou ao percebê-la quieta e deitada.
Melissa esboçou um sorriso fraco – Uma dor de estômago repentina.
-- Posso acender a lâmpada? – pediu em tom baixo e carinhoso.
-- Tanto faz. – a loirinha percebeu uma expressão triste e se aproximou sentando na beira da cama.
-- Você chorou? – tentou passar os dedos pelo cabelo negro.
-- Estava com dor de estômago. – desviou o rosto, mas foi impedida pelas mãos de Isadora.
-- O que está acontecendo hein? – perguntou acariciando o rosto da morena.
-- Apenas dor – “apenas uma dor forte, no peito e outra no estômago” - pensou com o semblante triste.
-- Vou preparar um chá, vovô me ensinou um monte de coisas sobre chás.
-- Não precisa – segurou a mão da loirinha assim que ela fez menção em sair da cama. Olhos safiras se encontraram com as esmeraldas e a morena começou a chorar, abraçando-se ao corpo menor.
-- Mel, você está me assustando – disse apertando-a contra si.
-- Não me deixa sozinha hoje... - olhou novamente dentro dos olhos de Isadora - Por favor! – pediu ainda chorando. Isadora enxugou as lágrimas que corriam no rosto moreno e depositou um beijo em cada lado.
-- Você é, e sempre será minha melhor amiga, a pessoa que mais amo no mundo, no planeta, no universo intergaláctico – voltou a olhar os olhos de safira e prosseguiu – Será sempre a minha fortaleza.
-- Então fica comigo, está doendo muito – falava entre soluços. Isadora segurou o rosto da amiga, olhando dentro dos seus olhos, e veio uma avalanche de emoções que se confundiam com o desejo inegável de lhe beijar, ela respirou fundo e abraçou o corpo maior, deitando-se depois ao seu lado.
-- Não vou lhe deixar, nunca. – disse com um semblante vencido.
“Isa, o que é isso que dói tanto?” – pensou enquanto era acariciada pela loirinha. Melissa logo pegou no sono, estava nos braços da pessoa que lhe transmitia paz, carinho e amor. Com tantas dúvidas na cabeça, a morena adormeceu. Enquanto, Isadora, mais uma vez, sentindo aquele corpo entrelaçado ao seu, não resistiu, certificou-se que sua amada dormia profundamente, e beijou-lhe os lábios, sentindo a maciez e textura daquela boca contra a sua. Aproveitando, ainda da grande oportunidade, afundou-se mais nas madeixas negras, sentindo o cheiro amadeirado característico da amiga.
“Mel como eu lhe amo” – foi assim que Isadora adormeceu.
Fim do capítulo
Meninas, tudo bem? Final de semana louco, não consegui responder aos comentários, mas vou arrumar um tempinho amanhã, então: não deixem de comentar.... kkkkkkk.... Beijos crianças e boa semana!
Comentar este capítulo:
ik felix
Em: 29/05/2017
Cara Rafa,
Estou adorando mais uma estória sua e irei acompalhá-la também.
Mas cara a Isadora tem que tomar coragem! Pelo jeito terá muitos desencontros na história delas. Visto que em um futuro relativamente distante elas ainda não se encontraram.
Aguardo anisiosamente pelo próximo capítulo. Abraço, IK.
Resposta do autor:
Tomar coragem... Às vezes, nós que somos adultas ainda temos medo de assumirmos nossos sentimentos, imagina duas adolescentes. Já reparou com Melissa aposta com tudo? Prestou atenção nos vícios da morena e da lorina? ...kkkkk.... Beijos
Mille
Em: 29/05/2017
Ah se a Mel tivesse ouvido toda história.
Eu adoro o vovô Eliezer, e a Melissa terá uma grande decepção quando souber que o avô dela não é uma pessoa boa.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Mel é muito pavio curto, por isso não ouviu a história toda. Talvez esse seja o maior defeito de todos nós: meias verdades. Já pensou sobre isso? Beijos
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AureaAA
Em: 29/05/2017
Olá autora!
Pensei que tinha nos esquecido,pois fui dormir sem ler o capítulo da minha fic favorita...eis que acordo na madrugada e lá está...resultado:perdir o sono kkkkkkkkkk
Resposta do autor:
Tardei mas não falhei! Final de semana agitado, muita coisa junta e misturada, mas olha mais um capítulo ai gente....! Aproveita. Beijos
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lay colombo
Em: 29/05/2017
Ai ó se ela tivesse escutado seu Eliezer muita coisa teria sido evitada, afina era só CV. Aliás o vô dá Isa é um dos meus xodózinhos nessa história, amo ele.
Resposta do autor:
A Isamel, ou Melisa teria consumado a história, e não haveria a aposta, não é verdade? Postei em um dos comentários que nosso maior defeito são as meias verdades. Concorda? Beijos e até mais.
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