CapÃtulo 15 - A carta
Capítulo 15 — A carta
— Pode continuar de joelhos, gracinha. — O agente disse já abrindo seu cinto e sua calça.
Adriana soltou-se do braço da guarda e foi para cima do agente.
— Minha amiga, não! — Bradava enfurecida, batendo no homem de calças arriadas.
Imediatamente os quatro estavam numa luta corporal violenta, Flávia tentava acertar o agente, mas de fato não era boa de briga, ainda mais com as mãos algemadas, acabou levando algumas pancadas.
Uma cozinheira viu uma movimentação estranha nos fundos da cozinha e chamou o chefe de segurança.
— O que está acontecendo aqui, senhores? — O homem fardado de azul e preto perguntou rispidamente ao entrar no local.
— Só viemos conversar com essas moças, tá tudo em paz, pode ir. — Respondeu a guarda, que segurava Adriana pelos braços. Flavia estava caída no chão com o rosto sangrando.
— Vocês estão pensando que aqui é a casa de vocês? Que porr* vocês acham que são?
Flávia ergueu-se do chão com as mãos na lateral do corpo, que doía.
— Deixa que a gente resolve. — O agente disse, segurando as calças.
— Ah é? Resolve? E você com as calças baixadas tava fazendo o que? E essas duas internas algemadas?
— Não é da sua conta.
— É da minha conta sim, quando dá merd* aqui dentro sobra pra mim, você sabia disso? Abre as algemas delas.
A contragosto, a guarda tirou as algemas das duas mulheres.
— Voltem para suas celas. — As duas saíram cabisbaixas, Adriana mancava. — E vocês dois me acompanhem.
Em silêncio, as duas caminhavam pelos corredores da prisão, a cela de Adriana era adiante.
— Vou nessa, gatona.
— Espera.
Flávia a abraçou em frente sua cela.
— Obrigada, você me salvou hoje, Dri.
— A vida é assim. — Sorriu e seguiu para sua cela.
***
— A rolha de poço sumiu, você percebeu? — Adriana falou baixinho para Flávia três dias depois, já estavam de volta ao trabalho.
— Vai ver foi suspensa, daqui a pouco deve voltar.
— Vira essa boca pra lá. Ainda bem que hoje é sexta... Sua namoradinha vem amanhã?
— Acho que sim. — Respondeu agora animada. — Vem alguém pra você?
— Não, nunca vem.
— Nem seus filhos?
— Minha mãe trouxe algumas vezes no início, agora não traz mais. Faz dois anos que não os vejo.
— Eu sinto muito... Não tenho filhos, mas imagino o quanto deve doer não poder vê-los.
— É a pior parte de estar aqui. — Respondeu emocionada. — Soube que já espalharam uma em cada casa.
***
Sábado pela manhã Juliana já fazia companhia à sua namorada no pátio externo, sentadas no chão, agora ainda mais distante da quadra.
— Quando você vai me contar sobre esse hematoma no rosto? — Juliana perguntou algum tempo depois.
— Foi uma briga que me meti sem querer.
— Quem bateu em você? Suas companheiras de cela?
— Não, funcionários.
— Você não denunciou?
— Não é assim que funciona...
— Por que fizeram isso?
— Foi pra me defender, você sabe que odeio brigas, foi pra evitar que algo pior acontecesse.
— Algo pior? — Juliana perguntou preocupada.
— Aqui dentro não é colônia de férias, Ju. — Disse afagando sua perna. — Eu sou uma das que menos apanham aqui dentro, só tomo um cassetete ou um tapa de vez em quando, tem meninas que levam surras, tem gente doente e gente morrendo.
— Mas nada disso é normal.
— É o sistema... Não quero mais falar disso, fofinha. — Correu carinhosamente sua mão pelos cabelos dela. — Me conta o que você anda aprontando por aí.
— Minha irmã já sabe, ela estava desconfiada por causa da credencial, me perguntou e eu contei.
— Tudo?
— Tudinho.
— E como foi a reação?
— Ficou com medo, né? Preocupada que eu entre para o mundo do crime.
— Eu nem queria que você precisasse frequentar esse lugar, quanto mais que se envolvesse com crime, quero você bem longe disso tudo.
— Ela vai se acostumar com o tempo. E não tenho planos de me tornar uma fora da lei. A propósito, tenho estudado para prestar concursos, com o Everton e a Carol.
— A Carol que eu conheço?
— Sim, é nossa amiga agora. Ela fala muito bem de você.
— Hum... Você ganhou mais uma amiga então.
— Sim, ela é divertida.
— Então você pensa em sair da fábrica de sua amiga?
— Sim, Cláudia sabe que vou prestar concursos, ela costuma me apoiar, sabe que não tem como me pagar mais do que eu ganho.
— Você tem gastado muito com essas visitas, eu vou te dar pelo menos metade do que ganho na fábrica, para ajuda nas suas despesas.
— Não, não precisa, use para comprar coisas pra você. A propósito, quanto você ganha?
— Meio salário.
— E ainda quer me dar metade? Não, de jeito nenhum.
— Prometo te recompensar quando sair daqui.
— Desde que não seja financeiramente. — Juliana sorriu com malícia.
— Ah é? Como você quer?
— Não sei, acho que minha criatividade anda nas alturas. À noite quando vou dormir fico imaginando como seria ter você na minha cama, isso me enche de ideias.
— Na sua cama? Estou com essa moral toda? — Perguntava animada.
— Eu quero tanta coisa de você, dona Flávia. Eu sei que tenho que ter paciência, mas às vezes sinto tanto sua falta que tenho vontade de vir correndo pra cá.
— Também sinto a sua. — Aproximou o rosto ao dela, entregou um pequeno beijo carinhoso. — Não vejo a hora de sair daqui... Ter minha liberdade de volta e ficar com você de verdade, quero te abraçar forte por uns quinze minutos, dar um beijo daqueles, quero que você se sinta a namorada mais especial do mundo, Ju.
— Droga, queria tanto poder te abraçar agora. — Juliana disse enxugando os olhos.
— Aguenta firme, meu anjo. — Flávia beijou sua mão. — Estou fazendo de tudo para sair logo.
— Quando você poderá pedir a progressão para o aberto?
— Daqui um mês, no final de novembro. Doutor Afrânio já me avisou que isso pode demorar, que tudo é muito burocrático, mas que o que importa é que tenho esse direito, está na lei. Estou esperançosa, quero sair ainda esse ano.
— Seria maravilhoso, quem sabe você ainda pega meu aniversário em janeiro, hein?
— Tomara.
— Tem fiscal olhando?
— Não. — Flávia respondeu segurando um sorrisinho, já sabia o que viria.
Juliana colocou a mão em seu rosto e lhe deu um beijo cheio de vontade, porém curto.
***
Quatro dias depois, Juliana estacionou o carro na garagem de casa após voltar do trabalho e estranhou a luz acesa no seu quarto. Ao entrar no recinto, encontrou seus pais mexendo em suas coisas.
— Ótimo, agora teremos explicações para essa pouca vergonha. — Sua mãe disse erguendo uma carta dentro de um envelope rasgado. O coração da jovem congelou.
— Vocês não podem mexer assim nas minhas coisas. — Retrucou segundos depois, ao se recompor do choque.
— Ah não? Que eu saiba você ainda é nossa filha e ainda mora sob o nosso teto. Comece a explicar isso, quem é essa Flávia?
Largou a bolsa sobre a cama e encarou o pai, que costumava ser mais compreensivo com ela, porém o semblante dele também era de irritação.
— A Flávia é minha namorada.
— Namorada?? — O pai assustou-se.
— E por que tem o endereço de uma penitenciária do Paraná nessa carta? — Sua mãe perguntou.
— Ela está presa.
— Guria, você quer tomar uma surra? É isso que você tá pedindo? — Seu pai dizia furiosamente. — Nunca te surramos, mas pelo visto é o que você merece.
— Foi falta de que? De amor? Por que você está fazendo isso com a gente? — Sua mãe começava a chorar.
— Aconteceu. — Saiu fraco, sua voz estava embargada.
— Não criei filha minha para namorar bandido, ainda mais mulher! Que vagabunda que deve ser isso? Que coisa absurda, tome vergonha na sua cara! — Seu pai dizia.
— Esse tempo todo mentindo para seus próprios pais! Sempre fizemos tudo por você, e você enfi* essa faca nas nossas costas.
— Vocês não entendem, nem entenderiam... — Juliana já chorava. — Mas a Flávia não é uma criminosa, ela fez um assalto apenas, e está totalmente arrependida.
— Uma bandida! Meu Deus, Juliana, olha o que você está fazendo com a gente! Seu pai já está com problemas no coração, você que matar seu pai? Você está nos punindo por que?
— Não tem nada a ver com vocês, foi mais forte do que tudo, eu não consegui evitar.
— Isso é influência daquele esquisito do Everton, não é? — Seu pai falava. — Ele que te levou para esse caminho? Você é uma menina boa, de família, não ia se met*r com essas nojeiras sozinha.
— Não, Everton nem a conhece.
— Você a visitou?
— Sim, algumas vezes.
— No Paraná?? E mentia dizendo que estava estudando?
— Sim. — Respondeu cabisbaixa.
— Como conheceu essa mulher?
— No assalto a empresa de Cláudia.
— Você não pode estar falando sério.
— Meu Deus...
O pai dela começou a esfregar o peito.
— Senta aqui, Joaquim, o que você tá sentindo?
— Essa menina quer me matar de desgosto, meu Deus, aquela desgraçada que atirou nela... Não pode ser verdade... Uma bandidinha qualquer.
— Vou te levar no hospital.
— Não quero, Wanda, só quero entender porque nossa filha passou a nos odiar tanto, eu dei carinho, dei estudos, dei um carro, onde eu errei?
— Viu o que você tá fazendo com seu pai? Que vergonha, se não bastasse uma filha sapatona ainda por cima envolvida com o crime, você vai matar nós dois.
— Desculpa, eu não queria magoar vocês. — Chorava copiosamente. — Vocês sempre foram maravilhosos comigo, eu não consegui dizer não, me desculpa. Pai, você deveria ir para o hospital, vou te levar.
— Não chega perto de mim! — Dizia ofegante. — E ainda tem coragem de se fazer de sofrida, não tem um pingo de vergonha na cara.
— Eu não estou fazendo mal a ninguém, eu me apaixonei por ela e ela também gosta de mim.
Sua mãe desferiu um tapa em seu rosto.
— Não repita essas nojeiras na nossa frente. Nós não criamos uma vagabunda, criamos uma mulher de bem, pra casar com homem e ter filhos.
— Fique desde já sabendo que você nunca mais vai chegar perto dessa mulher macho. — Seu pai vociferou.
— Pai... — Soluçava.
— E só vai sair de casa para o trabalho, vai passar os finais de semana trancada dentro dessa casa, não vai nem visitar sua vó, nem sua irmã aqui do lado, você entendeu? Meu Deus, que desgosto... — Esfregava o peito novamente.
— Acalme-se, Joaquim.
— Não vai sair pra nada! Se quiser estudar, vai estudar aqui no quarto, debaixo de nossas vistas.
— Eu não sou criança, pai! Tenho 23 anos!
— Você desonrou sua família! Eu deveria te dar uma surra pra aprender a respeitar pai e mãe! — Ele levantou.
— Vem cá, vou te dar água com açúcar.
Sua mãe tirou o pai do quarto, antes de baterem a porta deram um ultimato.
— E se não voltar ao normal pode juntar suas coisas! — Wanda disse.
O mundo havia desabado sobre a cabeça da jovem contadora.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Zaha
Em: 19/04/2018
Hola!!
Espero que Juliana n desista...sem medo! E devia sair de casamento.ja tá formada ,tem trabalho ...q se dane tudo kkkkkk
Sinto q pelos pais ela vai fraquejar por um tempo e Flávia vão sofrer um pouco na cadeia ....medo q aconteça algo e q ela perca o direito de sair antes...Aff!!!
Quando é Cristi q escreve tudo pode acontecer !!!
Beijuuu
Resposta do autor:
Hola, chica!
Algo me diz que você vai ficar chateada com os próximos acontecimentos, mas confie no taco das protagonistas, elas são meio lerdas às vezes, mas quem não faz suas merdas né? rs
Nada de grandes emoções, vai ser tudo dentro da paz.
Besos!!
mtereza
Em: 21/04/2018
Sabia que vc cumpriria a sua promessa com relação a Flávia e quanto a reação dos pais da Juliana vc ja tinha dado a entender q eles eram bem conservadores e preconceituosos resta saber se a Ju tera coragem de enfrenta-los
Resposta do autor:
Oie, moça!
Que bom te ver por aqui!!
Fique tranquila que irei ser boazinha com todo mundo até o final da história, nada de violência (só um pouquinho).
Juliana respeita os pais, como fic agora? Agora lascou-se.
Bjos e obrigada por comentar!
[Faça o login para poder comentar]
SaraSouza
Em: 20/04/2018
Obrigada autoraaaaa bjsss
Quw pais são esses ???jessssuuuussss!!!!
Ju, pensa com carinho pq a barra vai ser grande ou melhor ja ta sendo
Dias tensos vindo por ai ...
Resposta do autor:
Dias tensos para todo mundo... Mas a melhor parte sempre aparece no fim ;)
[Faça o login para poder comentar]
Kim_vilhena
Em: 20/04/2018
As vezes os pais podem ser bem cruéis. Espero que a juju não desista do que ela quer por causa dessa situação :/
Resposta do autor:
Juju é meio lerda às vezes, mas não é má pessoa não... rs
[Faça o login para poder comentar]
Andys
Em: 19/04/2018
Olá autora!
Gostando muito da história,confesso que fiquei com medo da cena final do capitulo anterior!
Mas as duas se safaram momentaneamente,que bom!`
A familia da Juliana não aceitou a relação da filha era o esperado.Infelizmente o preconceito acaba sendo maior que o amor familiar! Ainda bem que a Ju tem a irmã que apesar de ser contra a respeita.
Aliviada com a situação da Flávia, mas desconfiada que essa paz não irá durar muito..acaba logo esse tempo de prisão contando os dias!
Abs!
Resposta do autor:
É normal eu dar uns medinhos de vez em quando, mas ser alarme falso... rs
O tempo da prisão no regime fechado vai encerrar logo, mas as coisas não serão flores.
Obrigada por comentar! Bjos!
[Faça o login para poder comentar]
IolandaStrambek
Em: 19/04/2018
Nossas que pais chatos!! Preconceito é foda!
Resposta do autor:
Infelizmente eles são a maioria né? Triste...
[Faça o login para poder comentar]
Sem cadastro
Em: 19/04/2018
Hola!!
Espero que Juliana n desista...sem medo! E devia sair de casamento.ja tá formada ,tem trabalho ...q se dane tudo kkkkkk
Sinto q pelos pais ela vai fraquejar por um tempo e Flávia vão sofrer um pouco na cadeia ....medo q aconteça algo e q ela perca o direito de sair antes...Aff!!!
Quando é Cristi q escreve tudo pode acontecer !!!
Beijuuu
Resposta do autor:
Hola, chica!
Algo me diz que você vai ficar chateada com os próximos acontecimentos, mas confie no taco das protagonistas, elas são meio lerdas às vezes, mas quem não faz suas merdas né? rs
Nada de grandes emoções, vai ser tudo dentro da paz.
Besos!!
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 19/04/2018
Olá Cris
Livrou a Flávia de uma e alíviou nosso coração.
Agora Juliana terá que enfrentar os pais ela sabia que esse dia iria chegar basta saber se irá fazer o que eles querem ou sair de casa?
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Juliana pega no tranco, precisaremos de paciência, promete ter paciência com ela?
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]