Capítulo 40 - Só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza
Quando Lu voltou para o Brasil, deixou um vazio enorme dentro de mim, na casa, nos dias e, principalmente, na cama.
Me senti pior do que quando saí do Brasil. Meu desejo aumentava, minhas necessidades. Não sei, mas talvez porque já estivesse há muito tempo lá e sabia que muito ainda faltava para voltar. A cidade já começava a ficar desinteressante, nada era mais tão novo para mim e a quantidade de coisas para fazer diminuía gradativamente. Continuava falando com Luísa todos os dias, mas aquilo não me parecia mais suficiente. O que me restava era tentar me apoiar nas pessoas que estavam lá, na mesma situação que eu.
Foi num desses dias, que pareciam não acabar, que Chico me chamou para ir a uma festa em sua casa. Bebi demais e não tinha condição de voltar para o meu apartamento, àquela altura acho que nem sabia qual era o meu endereço.
Mariana acabou se oferecendo para me deixar em casa e eu aceitei. Quando chegamos ao meu apartamento, bebemos mais algumas garrafas de cerveja e trans*mos. Estávamos completamente embriagadas e, não vou negar, me sentia atraída por ela. Não era paixão, nem nada parecido. Era carne, era corpo mesmo, no melhor modelo cafajeste que uma relação pode ser.
Acordei no outro dia com o meu telefone tocando. Olhei e vi o número de Luísa. Olhei para o lado e me deparei com um cenário de guerra: roupas jogadas, garrafas pelo chão e uma mulher ao meu lado. Uma outra mulher, diferente daquela que me acostumei a chamar de minha nos últimos cinco anos e meio. Era uma mulher, mas não era a minha mulher.
A minha mulher, ao contrário, esperava que eu a atendesse no telefone. E foi o que fiz:
– Tentei falar com você o dia todo ontem – disse ela, impaciente.
– Oi. É que passei o dia inteiro na Universidade e, às vezes, o celular não pega lá, sabe como é… – expliquei sem muita segurança.
– Sei. Bom, como você está? – perguntou.
– Tudo bem. E você? – respondi sem querer prolongar muito aquela conversa.
– Tudo ótimo. Daqui a 15 dias nos encontraremos. Não vejo a hora – comemorou.
– Ah! Queria até falar com você sobre isso. Acho melhor você adiar um pouco a passagem porque estou cheia de trabalhos para fazer e não vou conseguir te dar atenção – falei, sem saber direito o que estava dizendo, mas certa de que precisaria de um tempo para resolver aquela situação.
– Não tem problema, de repente eu posso te ajudar – ofereceu-se.
– Pois é, mas são muitos seminários e artigos para escrever e acho que vai ficar complicado. Queria que viesse quando eu tivesse mais tempo – insisti.
– Tá bom, então vou remarcar para daqui a 30 dias, pode ser? – consultou.
– Pode sim – disse.
Desliguei o telefone e respirei fundo. Era inegável que a noite havia sido ótima. Meu corpo não reagia assim desde que Luísa tinha voltado para o Brasil e eu tinha minhas necessidades. Para completar, Mariana era linda, madura e inteligente. Segura de si, bem resolvida e estava ali me dando mole há meses.
Tinha certeza de que eu amava Luísa, mas começava a achar aquele movimento todo meio egoísta da parte dela. Eu estava num país estranho, privada de quase tudo e ainda me obrigar a manter meu corpo celibatário. Era muito difícil.
Ao mesmo tempo me sentia culpada, pois sabia que Luísa não só era fiel, mas também era leal a mim.
As noitadas se tornaram quase uma rotina para mim e a minha relação com Mariana começava a ser comentada por alguns colegas, já que, depois das primeiras doses, nós já não conseguíamos mais controlar nossos corpos, como duas adolescentes. Nos dias que se seguiram preferi falar pouco durante os telefonemas com Luísa, ela também não insistiu muito.
Mariana dormia na minha casa quase todas as noites e as bebedeiras eram quase que diárias. Muitas vezes queria me controlar, negar, mas a ideia de ficar só naquele apartamento não era atraente e ela sempre sugeria alguma coisa mais quente e eu acabava cedendo.
Embora ela soubesse da minha relação com Luísa e até as tivesse apresentado quando Lu esteve aqui, não encarava aquilo como um problema, parecia até gostar de ser a outra. Aquela situação parecia mexer com ela.
Uma sexta-feira à noite, bebemos tanto que acabei cochilando. No outro dia, quando acordei, Mariana me disse que alguém havia me ligado e que ela tinha atendido ao telefone. Ela não disse quem era, mas senti o meu corpo gelar, meu sangue sumir. Fui invadida por um desespero. Quis colocar aquela menina para fora da minha casa, apagar aquela história da minha. Ao contrário, me tranquei no banheiro com o telefone e liguei para ela. Deviam ser perto das 7h da manhã no Brasil.
Ela atendeu no primeiro toque.
– Lu? – perguntei.
– Oi – respondeu, sonolenta.
– Tudo bem? – perguntei sem saber o que dizer.
– Tudo e você? – perguntou ela, estranha.
– Olha, você me ligou ontem? – disse, sem saber por onde começar.
– Liguei, me disseram que você estava dormindo – falou irônica, mas parecendo tranquila.
– Foi uma colega minha da faculdade que veio me ajudar num trabalho – tentei.
– Que bom que conseguiu alguém para ajudá-la – ironizou outra vez.
– Passamos o dia todo estudando e eu acabei pegando no sono – expliquei.
– Imagino – respondeu.
Eu preferia que ela tivesse gritado comigo. Daquele jeito começava a trabalhar com o imprevisível. Não sabia o que estava se passando na cabeça dela, então tentei:
– Olha, Lu, você deve estar pensando um monte de coisa, mas acho que precisamos conversar – disse, por achar que era a única coisa que podia dizer.
– Estou à sua disposição – disse ela, calmamente.
– Você sabe que quando se está longe tudo fica mais difícil – começou ela.
– Carolina, deixa eu facilitar a sua vida: quem é ela? – perguntou de forma surpreendentemente objetiva.
– Lu, não é assim que as coisa se resolvem – tentei argumentar.
– Quem é E-LA? – insistiu.
– Amiga de um colega da faculdade – respondi.
– Há quanto tempo? –quis saber.
– Lu, eu tinha bebido demais e acabou acontecendo – tentei me justificar.
– Responde o que eu perguntei – disse aumentando o tom de voz.
– Três semanas, mais ou menos – respondi.
– Foi ela quem atendeu ao telefone ontem?
– Sim, mas eu posso explicar – me adiantei.
– Foi por isso que você pediu para que eu não fosse? – interrogou.
– Não, Lu, é que eu realmente estou cheia de trabalho e…- tentei dizer sem nenhuma firmeza.
– Olha, Carolina, eu só quero saber como vamos resolver as coisas práticas daqui para frente – disse ela.
– Lu, não faz assim. Me perdoa. Foi só uma aventura boba de quem está carente, longe – disse eu.
– Carolina, responde o que eu estou te perguntando, por favor – pediu.
– Lu, você que não quis vir comigo e me deixou sozinha aqui – culpei.
– Olha, Carolina, eu não vou deixar você fazer isso comigo. Ainda bem que eu não fui, teria largado tudo e não conseguiria impedir você de viver essa aventura. Eu só quero resolver o que vai ser daqui pra frente, aí você segue a sua vida, o que parece que já está fazendo, e me deixa seguir a minha – disse ela, resolutiva.
– Lu, eu vou encontrar você aí e a gente conversa, por favor – implorei chorando.
– Carolina, seria um gasto de dinheiro e de energia completamente inútil. Pense no que você quer fazer com a casa e as coisas em geral e me avise – parecia decidida.
– Não desliga Lu – pedi.
Ela desligou e eu me desesperei. Saí do banheiro e coloquei Mariana educadamente para fora da minha casa. Não queria mais olhar para a cara dela, queria sumi-la de mim. Na verdade, queria sumir eu mesma de mim.
Ficava imaginando como Luísa devia estar, mas toda aquela frieza que ela havia demonstrado me deixava assustada.
Fim do capítulo
Esse capítulo foi difícil, mas tem mais coisas vindo por aí. O que vocês acharam, meninas?
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patty-321
Em: 17/03/2018
Porra, sinceramente se tivesse acontecido só uma vez, eu perdoaria, mas porra Carol vc ja tava de caso com essa mulher. pqp. fdp. Ainda quer perdão? Não dar. Acho q a Luiza precisa seguir em frente e encontrar um amor verdadeiro e fiel pq a carol cagou tudo. Bjs
Resposta do autor:
Luísa parece ter amadurecido bstante. Vamos ver como se sai diante dessa prova de fogo
brunafinzicontini
Em: 17/03/2018
A narrativa de Carolina não deixou dúvida: pior a emenda que o soneto! Antes disso, ainda havia o benefício da dúvida. Nossa imaginação nos levava a crer que o fato teria sido de menor importância, merecendo perdão. Depois dos detalhes, porém... Cafajeste, mesmo! Não foi um casinho de uma noite! E ela ainda vem se justificar falando de suas "necessidades"? Que isso? Estragou uma história de amor belíssima! Difícil imaginar um final bonito depois desse desastre... Mesmo que a coitada da Luísa a aceite de volta, uma feia mancha marcou o relacionamento para sempre.
Abraços,
Bruna
Resposta do autor:
Bruna, vamos esperar para ver os próximos passos de Luísa. Agora, mesmo que Carol esteja com a palavra, quem dá as cartas é Luísa.
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Pryscylla
Em: 12/03/2018
Sinceramente essa atitude foi de um egoísmo impressionante, espero que a Luiza não perdoe ela. Eu acredito que traição não tem perdão, e após constatar que a Carol só pensou nela continuo pensando o mesmo. Enfim vamos ver se ela merece ser perdoada.
Bjus ;)
Resposta do autor:
Pryscylla, complicado né? mais tem coisas que só o coração é capaz de explicar. Vamos ver como é que o coração desconfiado de Luísa se comporta nessa situação.
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Luanna-lua
Em: 12/03/2018
Eita!! Essa Carolina é de um egoísmo, não merece a Luiza, o que ela está sentindo não é nem arrependimento pq ela fez e gostou e manteria esse caso se a Luiza não descobrisse, ela sabe o quão especial a Luiza é e agora tem medo de perde-la, o que só mostra o quanto ela é desleal, tava numa boa satisfazendo os desejos do corpo e enganando quem ela disse amar. Gente esse argumento que ela usa dizeendo que tinhas suas "necessidades" só prova que ela ama só a sí mesma, porque não tem condições dela setir o amor que diz pela Luiza, pelo menos não da forma como ela descreve.
Não sei, a Carolina me parece dois personagens, um: uma mulher charmosa, inteligente, dedicada, apaixonada e apaixonante. E a outra uma mulher com caráter um tanto duvidoso, cafageste e egoísta, meio que imatura apesar da idade.
Sei que existem mil motivos que levam a uma traição, não justifica, porém existem.
Torço para que a Luiza siga em frente, talvez com outra pessoa não sei, porém pelo enredo apresentado acho que a questão não é se ela deve ou não perdoar, mas será que a Carol merece alguém como a Luiza?? Na minha opinião não.
Parabéns pela estória, você escreve muito bem!!
Resposta do autor:
De repente, quem sabe Luísa não supreende a Carol e a nós também? Vamos acreditar que tudo isso serviu para Luísa também mostrar que está preparada pra viver a vida em todas as suas nuances.
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Allex
Em: 12/03/2018
Que amor é esse? Um amor que trai, que para continuar traindo mente na cara dura para a esposa adiar a viagem de reencontro. Um amor que não pode passar dois meses longe e já considera que é tempo demais pra se manter no celibato e já vai satisfazer suas necessidades sexuais com outra pessoa, sem um pingo de culpa? E ainda culpa a esposa pelas suas atitudes!!! Canalha, egoísta, FDP seriam alguns dos adjetivos que se adequam à Carolina. Luíza não merece amar alguém assim pois, concordo com uma frase que diz que 'AMOR POR SI SÓ NÃO BASTA'. Bjs autora
Resposta do autor:
Oi Allex, e se Luísa ensinar a Carol a respeitá-la? Acho que tem alguém aqui precisando de uma lição!
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Nocturne
Em: 12/03/2018
Que atitudes decepcionantes da Carolina. Ela foi muito canalha.
Já seria difícil, talvez impossível, engolir se tivesse ficado na primeira noite de bebedeira, mas persistir no erro, seguir na canalhice, foi muito desrespeitoso com a Lu.
Uma relação pode até ter amor de sobra, mas do que adianta o amor desacompanhado do respeito?
Espero que a Luísa não aceite a Carol de volta. Adoro a Luísa. Ela pode até ficar sozinha, ou com a Solange, que gosta dela e a respeita. De um jeito ou de outro estará bem melhor do que com a Carolina.
Resposta do autor:
Acho que Carol não perde por esperar. Quem diz o que, corre um sério risco de ouvir o que não quer. Então, que comecem os jogos!
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NovaAqui
Em: 12/03/2018
Conversa com a Carolina e tenta ver se tem conserto, Lu
Se não tiver parte para outra
Que bola fora, Carolina!
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Será que Lu vai querer papo? Acho que agora Carol vai ter que comer na mão de Luísa se quiser voltar a vê-la.
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Pipoca ramos
Em: 12/03/2018
Vendo pelo lado da Carolina tenho absoluta certeza que a Luiza tem que seguir em frente pois a Carol não só foi desonesta com o relacionamento delas como tbm mto egoísta.
Bola pra frente pra Luiza e que a Carol aprenda com os erros.
Bjs autora e até o próximo
Resposta do autor:
Team Luísa em campo com todos os titulares! Acho que vamos ter um 7x1.
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juno2018
Em: 12/03/2018
Primeiro quero dizer que gosto muito da sua história. :))
Estava até torcendo pela reconciliação rsrsrs
Mas agora vendo pelo ponto de vista da Carolina confesso que fiquei um pouco decepcionada com ela :((
Tudo bem que errar é humano mas dava p ela ter sido um pouco mais honesta
ou pelo menos ter evitado persistir no erro...
Enfim, aguardando oq vem por aí
bjão
Resposta do autor:
Tem vezes que não dá nem pra torcer ne? Isso tá parecendo final de Copa do Mundo!!
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