Capítulo 20 - Uma mulher de moral não fica no chão
Até que, em uma determinada noite, Marcos e Marina conseguiram me tirar de casa para comer um crepe, sem compromisso. Fui.
Estávamos no restaurante há cerca de uma hora, quando uma mulher linda, cabelos grisalhos, se aproximou da nossa mesa e cumprimentou Marcos. Olhou para nós e perguntou se podia sentar-se. Diante da assertiva, puxou a cadeira e sentou-se ao meu lado, apresentando-se.
– Boa noite, gente, meu nome é Solange.
A mulher, que era extremamente atraente, fazia parte do círculo de amizades do trabalho de Marcos e me fez rir bastante naquela noite.
No final da noite, ela me olhou e disse:
– Você não devia cultivar essa tristeza. É uma mulher linda, inteligente e simpática. O mundo perde muito sem o seu sorriso – disse ela.
Eu baixei os olhos, envergonhada, e deixei uma mecha do meu cabelo cobrir um dos meus olhos e respondi:
– Tudo tem seu tempo.
– Tomara que seja breve, então – disse ela.
Enquanto eu tentava reaver meus pedaços, Carol continuava me mandando mensagens com pedidos enfáticos de desculpas. Em 10 dias, foram mais de 20 mensagens e 5 ligações. Atendi todas, mas o conteúdo era sempre o mesmo, arrependimento e declarações que, achava eu, talvez fossem todos verdade, só não tinha mais coragem de sofrer, pelo menos não naquele momento.
Dois dias depois recebi uma ligação.
– Liguei para saber se você já voltou a sorrir – disse minha interlocutora.
Solange, pensei. Não pude segurar e acabei rindo.
– Bem melhor – disse ela.
– Melhorando – completei.
– Precisamos comemorar este avanço – disse.
– Não é pra tanto – recuei.
– Todo avanço, mesmo que pequeno, merece ser comemorado. Sendo assim, estou convidando você para comer o melhor peixe na telha da sua vida. Não tem desculpa, já que seu melhor amigo já confirmou presença – intimou.
– Bom, adoro peixe, mas não vou prometer nada – disse.
– Já estou contando com você. Anota aí meu endereço – falou.
– Pronto, anotado – disse.
– Não vejo a hora de te ver sorrindo – falou.
– Nem eu – respondi rindo.
Desliguei o telefone, achando que aquela conversa já tinha extrapolado meu limite de sociabilidade pelos próximos seis meses.
O telefone voltou a tocar em seguida, só que dessa vez era Carol, dizendo que tinha decidido largar tudo e voltar para o Brasil.
Eu me encarreguei de dizer que essa era uma decisão errada, que só atrapalharia a vida dela e provocaria mais angústia. Dentro de um mês ela defenderia o projeto e poderia voltar ou poderia ficar, já que, pelo visto, havia construído laços lá.
Acabamos discutindo. E o resto da semana foi de silêncio.
O final de semana chegou e com ele a insistência de Marcos em me tirar de casa para comer o tal peixe. Eu estava firme na minha decisão de não ir. Mas acabei cedendo.
Fui no meu carro para não depender de ninguém para voltar. Depois de 2 horas de interação, comecei a me mobilizar para bater em retirada. Não consegui.
Fui sendo envolvida pela conversa e acabei me despedindo de Marcos, o último a sair. Engatei uma conversa com Solange sobre felicidade, Epicuro e Nietzsche.
Quando me dei conta, já era 1h da manhã.
Levantei apressada e disse:
– Solange, a noite foi ótima, a comida estava uma delícia, mas preciso ir embora – decretei.
– Precisa? – perguntou ela.
– Já está tarde e… – comecei.
– Você quer ir embora? – perguntou.
– Não sei te responder ao certo, mas acho que eu devo ir – arrisquei.
– Já disse a você que o que você deve é voltar a sorrir – disse ela se aproximando de mim e segurando meu queixo com o indicado e o polegar.
Quis baixar a cabeça, mas fui impedida por ela, que me beijou. No início, resisti, mas depois tentei me entregar ao beijo, experimentar, testar até.
O clima foi esquentando e a mão dela foi criando vida dentro da minha blusa. A princípio não senti qualquer incômodo, pois parecia mais me alisar do que me bulinar.
Ela assumiu o comando e foi me empurrando até a cama sem interromper o beijo.
Ela me deitou devagar na cama e tirou minha blusa. Sentia meu corpo responder aos estímulos de alguma forma. Senti meu rosto esquentar. Tirou minha saia e logo acessou o meu sex*, que estava úmido.
Meu corpo queria levar aquilo à diante, mas minha cabeça não parava de me avisar que aquela não era Carol, o que fez com que meu corpo pouco a pouco identificasse o engano e revisse suas decisões.
Uma angústia tomou conta de mim, até que disse:
– Eu não posso!
Ela parou na hora. Deitou ao meu lado, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ela puxou o lençol para cobrir o meu corpo seminu, enquanto eu pedia desculpas.
Me abraçou por trás e disse:
– Tá tudo bem, meu bem. Não vamos fazer absolutamente nada que você não queira.
– Minha cabeça não deixa meu corpo em paz! – disse eu soluçando.
– Não tem problema. Vamos dar o tempo que sua cabeça precisar – consolou, enquanto alisava minhas costas.
– Quero vestir minhas roupas – eu disse decidida.
– Fica quietinha, não vou te tocar sem que você queira. Não farei nada que você não queira – tranquilizou.
– Tenho que ir para casa – eu disse.
– Não vou deixar você sair daqui assim. Você está nervosa. Você dorme aqui e amanhã a hora que você quiser, vai para casa, ok? – sugeriu.
Balancei a cabeça concordando com ela.
Acordei no meio da madrugada e quando olhei para o lado ela não estava na cama. Levantei um pouco confusa e fui achá-la no sofá. Fiquei pensando como eu podia ser tão folgada. Acabei com todas as más intenções dela e ainda fiquei com a cama. Que vergonha!
Para me redimir da culpa, preparei o café da manhã antes mesmo dela acordar.
Quando ela levantou apressou-se em me perguntar:
– Como passou a noite?
– Bem. Mas, ai que vergonha!, acho que você já não pode dizer a mesma coisa. Dormiu toda encolhida ai nesse sofá! – falei quase me desculpando.
– Foi por uma boa causa, não queria que você se sentisse desconfortável e não quis ir para o quarto de hospedes, pois queria ter certeza que a senhorita não ia sair por essa porta sem avisar – confessou ela apontando para a porta de saída.
– Não faria isso – garanti.
– Mas por esse café da manhã você está perdoada! – disse ela pegando uma torrada com geleia que eu tinha acabado de preparar.
– Bom, eu acho que já te aluguei demais né? – perguntei.
– Claro que não! O que você vai fazer hoje? – perguntou ela.
– Vou para casa trabalhar um pouco e, provavelmente, sofrer outro pouco – disse rindo de mim mesma.
– Quer ir andar na praia comigo? – convidou.
– Ai, não sei. Não sou muito fã de sol – confidenciei.
– Dá pra perceber, mas vamos?! Vai ser bom para você espairecer.
– Tá bom, então, mas preciso passar em casa para trocar de roupa, você se importa? – perguntei.
– Claro que não. Posso ir com você? – perguntou.
– Pode. Depois da praia te deixo aqui, ok? – propus.
– Perfeito! – disse ela.
Fazia um sol lindo e a praia estava cheia. Caminhamos por cerca de 1 hora, mas o calor nos fez sentar em frente ao mar para tomar uma água de coco. Ficamos ali conversando por quase 2 horas, depois fui deixar Solange em casa e ela me disse:
– Meu bem, obrigada pela companhia, você iluminou meu dia – disse me beijando no rosto.
– Era o mínimo, depois do que fiz com a sua noite – falei sem graça.
– Já disse a você que estou à sua disposição – ofereceu.
Fim do capítulo
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